Essa é uma lista de obras que podem nos ajudar a entender o Brasil em que vivemos hoje. Não são livros de História, nem tratados de Sociologia, mas narrativas literárias que pensam o país sob a ditadura, sob as botas militares e os sapatos bem-engraxados da nossa elite econômica. Algumas delas foram escritas em meio ao turbilhão, tanto é que nos dão a sensação de que estão em suspenso, sem um final possível – basta observar os romances As meninas, de Lygia Fagundes Telles, ou Reflexos do baile, de Antonio Callado, por exemplo. Outras, trazem a história vivida pouco tempo antes, em um passado que ainda não cicatrizou no corpo de quem fala, como em Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, ou Retrato calado, de Luiz Roberto Salinas Fortes. Mas há também os romances recentes, narrados por aqueles que precisam desvendar os acontecimentos que destruíram famílias, sejam elas ficcionais ou reais, como em O corpo interminável, de Claudia Lage, ou O indizível sentido do amor, de Rosângela Vieira Rocha, respectivamente.
Em suma, são obras que apontam para a necessidade de estarmos atentos à ferocidade de um tempo que não se tornou passado, porque continua doendo em muita gente, porque ainda existem os que têm a indecência de negá-lo, porque a arbitrariedade continua à espreita. Se a História, para muitos brasileiros, parece sempre distante demais, os livros dessa lista são um convite de reaproximação. A partir da individualização das experiências, buscam se conectar com o/a leitor/a e retransmitir a mensagem: “não se esqueçam de nós, que lutamos pela sua liberdade, não permitam que isso se repita”.
A lista está organizada em ordem alfabética, pelos títulos das obras.
A chave de casa (2007), de Tatiana Salem Levy
À espera do nunca mais: Uma saga amazônica (1999), de Nicodemos Sena
A expedição Montaigne (1982), de Antonio Callado
A festa (1976), de Ivan Ângelo
A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga
A importância dos telhados (2020), de Vanessa Molnar
A noite da espera (2017), de Milton Hatoum
A resistência (2015), de Julián Fuks
A vida invisível de Eurídice Gusmão (2016), de Martha Batalha
A voz submersa (1984), de Salim Miguel
Ainda estou aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva
Alexandria em meus sonhos (1991), de Nilton de Freitas Monteiro
Anos de chumbo e outros contos (2021), de Chico Buarque
Antes do passado: O silêncio que vem do Araguaia (2012), de Liniane Haag Brum
Aqui, no coração do inferno (2016), de Micheliny Verunschk
As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles
As netas da Ema (2005), de Eugenia Zerbini
Avalovara (1973), de Osman Lins
Azul corvo (2010), de Adriana Lisboa
Bar Don Juan (1971), de Antonio Callado
Batismo de sangue (1982), de Frei Betto
Cabo de guerra (2016), de Ivone Benedetti
Chão de exílio (2021), de Wanda Monteiro
Correio do fim do mundo (2018), de Tomás Chiaverini
Crônicas do Araguaia (2015), de Janailson Macedo
Damas da noite (2014), de Edgard Telles Ribeiro
Depois da rua Tutoia (2016), de Eduardo Reina
Depois de tudo tem uma vírgula (2021), de Elizabeth Cardoso
Diário do farol (2002), João Ubaldo Ribeiro
Dois (2017), de Oscar Nakasato
Elefantes no céu de Piedade (2021), de Fernando Molica
Em câmara lenta (1977), de Renato Tapajós
Em liberdade (1981), de Silviano Santiago
Estive lá fora (2012), de Ronaldo Correia de Brito
Feliz ano velho (1982), de Marcelo Rubens Paiva
Felizes poucos (2016), de Maria José Silveira
Grande mar oceano (2019), de Leonardo Almeida Filho
Há um débito em seu nome (2020), de Maurício Corrêa
História natural da ditadura (2006), de Teixeira Coelho
Humanos exemplares (2022), de Juliana Leite
Imaculada (2013), de Denise Assis
Incidente em Antares (1971), de Erico Verissimo
Julia: Nos campos conflagrados do senhor (2020), de B. Kucisnki
K.: Relato de uma busca (2011), de B. Kucisnki
Lobos (1997), de Rubem Mauro Machado
Mar azul (2012), de Paloma Vidal
Mulheres que mordem (2015), de Beatriz Leal
Na teia do sol (2004), de Menalton Braff
Não és tu, Brasil (1996), de Marcelo Rubens Paiva
Não falei (2004), de Beatriz Bracher
Não verás país nenhum (1981), de Ignácio Loyola de Brandão
Nem tudo é silêncio (2010), de Sonia Regina Bischain
No fundo do oceano, os animais invisíveis (2020), de Anita Deak
Noite dentro da noite (2017), de Joca Reiners Terron
Nos idos de março (2014), vários autores (org. de Luiz Ruffato)
O amor dos homens avulsos (2016), de Victor Heringer
O amor, esse obstáculo (2018), de Micheliny Verunschk
O beijo da morte (2003), de Carlos Heitor Cony e Anna Lee
O corpo interminável (2019), de Claudia Lage
O estandarte da agonia (1981), de Heloneida Studart
O experimento de Avelar (1997), de Luiz Eduardo Soares
O fantasma de Buñuel (2004), de Maria José Silveira
O filho da ditadura (2010), de Juvenal Teodoro Payayá
O guardador de fantasmas (1996), de Fábio Campana
O indizível sentido do amor (2017), de Rosângela Vieira Rocha
O pardal é um pássaro azul (1975), de Heloneida Studart
O peso do coração do homem (2017), de Micheliny Verunschk
O que é isso companheiro? (1979), de Fernando Gabeira
O segredo da boneca russa (2018), de Celma Prata
O simples coronel Madureira (1967), de Marques Rebelo
O torturador em romaria (1986), de Heloneida Studart
O último dia da inocência (2019), de Edney Silvestre
Onde andará Dulce Veiga? (1990), de Caio Fernando Abreu
Os carbonários (1980), de Alfredo Sirkis
Os novos (1971), de Luiz Vilela
Os pecados da tribo (1976), de José J. Veiga
Os que bebem como os cães (1975), de Assis Brasil
Os tambores silenciosos (1977), de Josué Guimarães
Os visitantes (2016), de B. Kucinski
Outono (2018), de Lucília Garcez
Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende
Palavras cruzadas (2015), de Guiomar de Grammont
Pedaço de santo (1997), de Godofredo de Oliveira Neto (republicado em 2011 com o título de Amores exilados)
Pesadelo (2019), de Pedro Tierra
Pontos de fuga (2019), de Milton Hatoum
Pra amanhecer ontem (2017), de Anna Mariano
Primeiro de abril (1994), de Salim Miguel
Prova contrária (2003), de Fernando Bonassi
Quarenta dias (2014), de Maria Valéria Rezende
Quarup (1967), de Antonio Callado
Quatro olhos (1976), de Renato Pompeu
Que fim levaram todas as flores (2019), de Otto Leopoldo Winck
Reflexos do baile (1976), de Antonio Callado
Retrato calado (1988), de Luiz Roberto Salinas Fortes
Rio – Paris – Rio (2017), de Luciana Hidalgo
Sempreviva (1981), de Antonio Callado
Setenta (2019), de Henrique Schneider
Silêncio na cidade (2017), de Roberto Seabra
Sob os pés, meu corpo inteiro (2018), de Marcia Tiburi
Soledad no Recife (2009), de Urariano Mota
Solidão calcinada (2007), de Bárbara Lia
Sombras de reis barbudos (1972), de José J. Veiga
Tocaia do Norte (2020), de Sandra Godinho
Tropical sol da liberdade (1988), de Ana Maria Machado
Um certo Jaques Netan (1991), de Carlos Nejar
Um romance de geração (1980), de Sérgio Sant’Anna
Vidas provisórias (2013), de Edney Silvestre
Você vai voltar para mim (2014), de B. Kucinski
Volto semana que vem (2015), de Maria Pilla
Zero (1975), de Ignácio Loyola de Brandão