Ilustração por Karina Freitas

 

 

Confira a segunda matéria de Inéditos: A orelha que não houve

 

 

Deixando a Cidade com Allen Ginsberg

(Traduzido por Rubens Akira Kuana)

 

Allen Ginsberg, eu lhe conheci

em um banheiro de posto de gasolina em algum lugar na Califórnia

e eu nem dirijo ou sonho.

Você pediu pelo meu número,

eu pedi um cigarro. Era noite em Nova Iorque

onde ambos estamos mortos, e a América

era linda e sangrenta como um menino.

Eu não fumo, eu disse,

mas existe a guerra e também existe o amor,

e nenhum espelho neste banheiro

portanto, e agora? Quando eu posso entrar no supermercado

e comprar o que preciso com a minha beleza?

Onde eu posso encontrar o melhor jeans para vender meu livro?

Se nós deixarmos este lugar esta noite

não o deixemos sem amor.

Vamos cavar um cemitério feito um verão em nossas mãos.

E todas as pessoas que irão passar e abençoar nossos corpos —

vamos levá-las conosco Allen Ginsberg,

vamos mantê-las despertas.

 

 

Leaving Town with Allen Ginsberg

 

Allen Ginsberg, I met you in a gas station bathroom somewhere in California

and I don’t even drive or dream. You asked me for my number,

I asked you for a cigarette. It was evening in New York

where we were both dead, and America

was beautiful and bloody like a boy.

I don’t smoke, I said, but there’s a war and there’s my love too,

and no mirror in this bathroom

so, what next? When can I go into the supermarket

and buy what I need with my good looks?

Where can I find the best blue jeans to sell my book?

If we leave this place tonight l

et’s not leave loveless.

Let’s dig a cemetery like a summer in our hands.

And all the people that will pass and bless our bodies—

let’s take them with us Allen Ginsberg,

let’s never let them sleep.

 

 

Fé Americana

 

Você se pergunta se está cidade irá lhe matar.

A forma como o triste garoto cheira cocaína oscila

suas pernas sobre a borda de outro telhado

e o seu hit de verão favorito termina

ou será que começa — é muito breve para importar.

A vida de alguém é uma luz azul ou vermelha na distância.

Nada disso irá despi-lo da maneira que você gosta.

Você sabe que veio até aqui pelas razões erradas,

então me conte, se Nova Iorque fosse uma palavra

seria dinheiro ou ambição?

Se você tiver sorte, o amor lhe permitirá esquecer um dos dois.

Você pensa sobre isso

enquanto assiste alguém bonito

colocar uma pílula na sua boca

e temporariamente sentir o seu corpo.

E o amor — o amor de novo —

como uma sirene noturna, passa.

Para que entrar em detalhes?

A América é sobre encontrar algo para idolatrar.

 

 

American Faith

 

You wonder if this city will kill you.

The way the sad boy doing cocaine dangles

his legs over the ledge of another roof

and your favorite summer song ends

or is it beginning—it feels too brief to matter.

Someone’s life is a red or blue light in the distance.

None of this will strip you down the way you’d like.

You know you came here for the wrong reasons,

so tell me, if New York was a word

would it be money or ambition?

If you’re lucky, love will let you forget about one of the two.

You think about this

while you watch someone beautiful

put a pill in your mouth

and a temporary feeling in your body.

And love—love again—

like a night siren, passes.

Why go into detail?

America is about finding something to worship.

 

 

Este não é um poema pessoal

 

Este não é um poema pessoal.

Eu não escrevo sobre a minha vida.

Eu não tenho vida.

Eu não faço sexo.

Eu não experienciei a morte.

Não tome isso como pessoal mas

eu também não tenho quaisquer sentimentos.

Os sentimentos que eu não tenho não controlam a minha vida.

Eu tenho imaginação. Eu estou imaginando agora.

Este poema está preocupado com a linguagem em um nível bem simples.

Este poema roubou essa linha de John Ashbery.

Este poema quer que você o curta,

por favor clique em “curtir”.

Este poema foi escrito durante uma recessão.

Eu sou tão politicamente consciente

que a palavra “política” está no meu poema.

Este não é um poema novaiorquino.

Não há lugar o bastante para todas as guerras neste poema.

O casamento gay agora está neste poema.

Você já curtiu este poema?

Foi escrito em 2011 em Nova Iorque e postado há 11 minutos.

Você dormiria com o poeta que escreveu este poema?

Você compraria o livro dele? Clique aqui.

Este poema ama a linguagem.

Este poema dormiu com outros poemas

escritos por poetas que amam a linguagem.

Todos os poetas amam a linguagem.

Vamos falar sobre linguagem enquanto as pessoas morrem.

Este poema se preocupa muito, mas quer que você

pense que ele não se preocupa de verdade.

O orador deste poema pode ter

nascido em um antigo país Comunista.

Isso pode ou não importar.

Eu tive um orgasmo antes de escrever este poema.

Eu estou usando meus óculos de sol enquanto leio este poema.

Todo mundo vai morrer,

por favor não tome isso como pessoal.

O mundo. O mundo.

O mundo é quente como o sangue e pessoal.

Eu roubei essa linha de Sylvia Plath.

Coloque seu dinheiro neste poema.

Eu amo a cena do facial.

Este não é um poema pessoal.

Este poema é somente sobre Alex Dimitrov.

 

 

This is not a personal poem

 

This is not a personal poem.

I don’t write about my life.

I don’t have a life.

I don’t have sex.

I have not experienced death.

Don’t take this personally but

I don’t have any feelings either.

The feelings I don’t have don’t run my life.

I have an imagination. I’m imagining it now.

This poem is concerned with language on a very plain level. This poem stole that line from John Ashbery.

This poem wants you to like it, please click “like.”

This poem was written during a recession.

I’m so politically conscious

the word “politics” is in my poem.

This is not a New York poem.

There’s not enough room for all the wars in this poem. Gay marriage is now in this poem.

Have you liked this poem yet?

It was written in 2011 in New York and posted 11 minutes ago.

Would you sleep with the poet who wrote this poem?

Would you buy his book? Click here.

This poem loves language.

This poem has slept with other poems

written by poets who love language.

All poets love language.

Let’s talk about language while people die.

This poem cares a lot but wants you

to think that it doesn’t really care.

The speaker of this poem may have been

born in a former Communist country.

It may or may not matter.

I had an orgasm before writing this poem.

I have my sunglasses on while reading this poem.

Everyone is going to die please don’t take it personally.

The world. The world.

The world is blood-hot and personal.

I stole that line from Sylvia Plath.

Put your money on this poem.

I love the money shot.

This is not a personal poem.

This poem is only about Alex Dimitrov.