Certa vez, numa noite de inverno, uma jovem estava voltando de trem elétrico para casa na aldeia.
Não era longe para ir andando, mas a estrada passava por uma pontezinha e seguia para cima, pelo campo.
E então, subindo a montanha, a menina viu uma luz, como se brilhasse uma lanterna na mão de um passante, e ainda por cima o raio de luz batia bem nos olhos dela.
Ela se assustou, já estava tarde e escuro, não havia ninguém ao redor, só aquele raiozinho de luz que se aproximava pela trilha.
O que fazer?
Dar a volta era perigoso demais, ficaria parecendo uma fuga, iriam persegui-la e matá-la; ir de encontro à lanterna também dava medo, mas nesse caso era melhor fingir que não estava acontecendo nada.
A moça rapidamente passou seu pouco dinheiro da bolsa para a parte de dentro da roupa e andou rumo à lanterna como se não estivesse acontecendo nada.
O coração dela batia de medo, mas ela não diminuiu o passo e não parou senão demonstraria que estava com medo.
Esse raio de lanterna, porém, continuava brilhando e brilhando, mas não se aproximava um passo, e a jovem corria rumo àquela luz como uma mariposa vai para a luzinha de uma lâmpada.
Ela já andava assim há bastante tempo, e de repente notou que estava andando pelo campo.
A trilha havia desaparecido, adiante só brilhava o fogo da lanterna.
Não era difícil andar pelo campo, a neve havia se depositado, ainda que o campo fosse acidentado.
A neve dava, mal e mal, ao menos um pouco de iluminação, e a jovem começou a escolher um caminho mais plano, apesar de não saber aonde ia chegar andando por ele.
Então algo ao lado se mexeu bruscamente e iluminou todas as redondezas, como um raio, só que com uma maior duração de tempo.
A jovem até olhou ao redor, para o lado daquela explosão, mas já não se via nada.
Estava escuro, a neve brilhava de leve, e ao longe, imóvel, estava de pé uma pessoa indistinguível com sua lanterna.
E a jovem resignadamente foi na direção da luz daquela lanterna: pelo menos podia perguntar o caminho.
Mesmo que ela tivesse crescido naquele lugar, poderia acontecer de tudo.
Estava claro que ela tinha se perdido.
Ela andava e andava, a luz da lanterna a conduzia para algum lugar, e ela já não entendia por que estava se deslocando pelo campo nevado, onde estava sua casa e quanto tempo havia se passado.
Às vezes ela caía e saltava com horror, lembrando da história da vovó Pólia sobre como as pessoas cansadas que queriam descansar congelavam na neve.
A vovó Pólia havia morrido há não muito tempo, ela criava a neta desde que nascera e o tempo todo conversava com ela, o tempo todo, até quando ela ainda não sabia falar.
A moça mal andava porque estava muito cansada, ela estudava na escola técnica comercial, e naquele dia tinha tido aula prática numa loja, havia passado o dia inteiro de pé.
Normalmente ela não voltava tão tarde, tentava passar a noite na casa de uma amiga em Moscou; mas hoje não tinha conseguido, ela estava recebendo vários parentes.
A menina pensou que o pai e a mãe talvez tivessem ido encontrá-la e não a encontraram porque ela se desviou do caminho, foi para o campo e se perdeu, e agora os pais haviam voltado para casa e estavam ligando sem parar à amiga dela em Moscou; e como eles receberiam aquela notícia de que a filha havia ido embora de bonde há tanto tempo?
A moça chorou um pouco, mas depois andou como se fosse de madeira: ela entendeu que não tinha salvação, que a luz da lanterna a estava atraindo para algum lugar.
O coração dela batia acelerado, a boca estava seca, a garganta ardia.
Às vezes ela andava de olhos fechados, às vezes virava para o lado — mas sabia que a luz da lanterna de toda forma brilhava adiante.
Por fim, encontrou com algo duro e deu um grito. Era a cerca de um cemitério, uma sebe não muito alta.
Diante dela havia uma espécie de pedaço de bosque no campo, árvores velhas, que mal dava para enxergar no escuro das cruzes e monumentos atrás da cerca coberta de neve.
O raio da lanterna (ou a chama da vela) agora havia se perdido nas árvores densas e brilhava ao longe.
A jovem entendeu onde estava, e entendeu que a lanterna agora estava brilhando no pequeno túmulo da avó Pólia.
E, sem consciência, sem pensar em nada, a moça andou até o portão para entrar no cemitério.
Porém, horrorizada escutou atrás de si uma respiração alta e um leve sussurro.
Ela não olhou para trás, só apressou o passo e encolheu a cabeça no peito, esperando o golpe.
E então alguém tocou de leve sua luva, e depois a pegou e a puxou para o lado.
A jovem abriu os olhos e viu um pequeno cachorro peludo que, sorrindo, olhava para ela.
Na mesma hora sentiu a alma mais leve.
A moça olhou pela cerca: a luzinha no cemitério havia apagado.
O cachorro puxou a jovem para o lado mais uma vez.
A jovem estava numa trilha batida, bastante larga, na qual rolavam galhos de abeto — pelo visto, do último enterro.
E então ela saiu correndo a toda a velocidade por aquela trilha encontrada, e o cachorro imediatamente ficou para trás.
Pelo visto, era o cachorro que recolhia os restos das missas fúnebres no cemitério e se alimentava deles, esse mendiguinho de cemitério, e ele não se afastava de seu posto para ir a lugar
nenhum.
Meia hora depois a jovem já se aproximava da aldeia.
O pai e a mãe, como depois se descobriu, de fato haviam ido ao encontro da filha, mas no meio do caminho viram e escutaram uma explosão adiante. O que havia explodido era o gasoduto que atravessava bem na trilha.
A explosão se propagou pelas árvores em volta, tudo se queimou e com um assobio ardia uma alta tocha.
Os pais da jovem correram para o lugar da explosão, percorreram tudo em volta, mas não encontraram nada, nenhum resto mortal.
Depois foram para a estação de trem, ligaram para Moscou, e souberam pela amiga da filha que ela havia saído duas horas antes, esperaram o último trem, não viram ninguém e então rapidamente voltaram para casa por outra estrada, na última esperança de ter se desencontrado da filha.
Ao voltar, eles ligaram para a polícia, mas disseram a eles que todos estavam no local do acidente e ninguém iria procurá-la naquele momento.
A mãe estava rezando de joelhos diante do ícone, o pai deitado no sofá com o rosto virado para a parede, quando a moça entrou na casa.
O pai se sentou no sofá e levou a mão ao coração, a mãe se jogou sobre ela, a abraçou e disse:
— Onde você estava? Achamos que Deus havia te levado
— e então ela começou a chorar —, que a vovó Pólia tinha te chamado. Sabe, houve uma explosão na sua trilha. Logo depois chegou o seu bonde. Achamos que você havia sido atingida pela
explosão. Fomos lá te procurar.
— Sim — respondeu a jovem. — Eu vi a explosão, mas já estava longe. Estava perto dela. A vovó Pólia me chamou.