Fri-sabor

 

Um caminho livre é quando sem entraves

Nem graves os problemas

A tarde jogando dados

Descansando frondosa

No corpo das árvores

Farfalhando segredos

Do que se muda no mundo

Imperceptivelmente

 

Os oitizeiros da Paissandu

A Chora Menino calada

Envolta numa desordem tranquila

Cheia de meiguice, descanso e descaso

Num domingo comum que inspira desvelos

Preguiça e beleza

 

A sintonia das coisas é de uma promessa

Compartilhada no encanto do almoço

O alvoroço do sorvete a derreter na boca

Sorrindo suave com o gosto da tangerina

Minha infância, minha família, a Boa Vista

A memória vasculhada descobrindo-me em Deus

Que faz de tudo agora uma saudade imponderável

 

 

 

Acaiaca

 

As retinas de vidro largo

das salas, dos quartos,

miravam abertas os banhistas

do mar sem tamanho, boa viagem

como memória do tempo recente

a arquitetura diferente, moderna

e arrojada marcava a praia

em décadas pra trás, o Acaiaca

 

que era um nome, era um marco

um ponto de encontro para o chope

a cerveja, a paquera e o domingo

inesquecíveis desde então

 

um prédio ligeiro, de geometria

pensada, datada numa década de réguas

desmesura na forma a sorrir quadrada

para a imensidão de água na frente,

 

o exemplo que dividia a geografia

em dois lugares distintos, depois e

antes, diante somente a areia quente

de sol beijada, como um tapete

 

para o vulto de concreto a nos dizer

dos ritmos, dos segredos dos coqueiros

em lua cheia, os movimentos de maré

que sabe descalça dos mistérios do tempo