Os poemas que você lê adiante fazem parte da plaquete Brasil, uma trégua, lançada pelo Círculo de Poemas (Fósforo/ Luna Parque). Sobre esse projeto, a poeta Regina Azevedo , autora da plaquete, comentou: “Escrever Brasil, uma trégua foi, para mim, a oportunidade de um experimento poético de distanciamento e proximidade, exposição e invenção, intimidade e mistério. Escrevi sobre ser do Nordeste e estar no Nordeste em outubro de 2022, em meio a um processo eleitoral decisivo e a adoecimentos variados: individuais e coletivos. Acho que é uma plaquete sobre encarar a morte. E, diante dela, gritar, escrever, sonhar, desejar...”.
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cheia de lamúrias
ligo para um amigo
conto que acordo de madrugada
com o coração fazendo as malas
tenho medo de enlouquecer
digo que não como alface
há 4 meses
ele me consola e diz
que comeu 7 bolos de pote entre
quarta e domingo
e está jantando hambúrguer há 1 semana
mas hoje ainda não pediu
brasil
eu te peço uma trégua
depois desta caminhada
rumo à merda
eu acho que não dá pra perder de vista
que não cabe mais debaixo do tapete
que não dá pra deixar de falar
talvez tenhamos escorregado
em todos os passados
em todos os golpes
que passaram batido
tudo
que se esquece tudo
que não se diz
veneno a conta-gotas
na goela do país
já deu, já foi, já era
na cidade de currais novos
um graduado em letras
pede dinheiro
a uma mesa cheia de poetas
mestres e doutores
que tal
um país novo?
recomeçar?