Poética
Ai daquele que procura o sol
Neste dia inventado
Trazendo para a beira do abismo
- onde se levanta a ponta de pedra do sonho –
A poltrona de vê a manhã acender-se;
Ai daquele que investiga
Estas letras que faíscam música
- onde se empenham todos os dicionários –
Com seus microscópios de fazer sentido
As coisas que não se podem vê.
Ano Novo
Chegam as aves
Agora que entardece o dia
E janeiro dá as costas para o ano passado
E parece virar o rosto de vez
Para agora;
Fazem um pouso cauteloso
E andam desajeitadas no chão
A medir com os pés diminutos
A extensão da terra
Empenhadas em suspender no ar
Ramos partidos, folhas abandonadas,
Penas –
Que lhe tiraram as mudanças –
Sem uma raiz, um tronco, uma razão
Para aninhar os seus ovos.