A sereia que matava nazistas

Com os 80 anos do final da Segunda Guerra, As sereias de Haarlem é uma graphic novel que mostra uma heroína assassinada pelos nazistas nos Países Baixos, uma mulher que deu à vida pela luta em prol da

Os desenhos em aquarela são mostrados em tons sombrios, nebulosos, criando o clima de opressão e medo da época
Os desenhos em aquarela são mostrados em tons sombrios, nebulosos, criando o clima de opressão e medo da época

O fim da Segunda Guerra Mundial completa 80 anos este mês. O horror do conflito, que matou mais de 70 milhões de pessoas em diversos continentes, impede que ele seja esquecido, e que a memória de alguns dos seus protagonistas não seja perpetuada, trazida à tona. É o caso de Hannie Schaft, que integrava a resistência holandesa, e cuja história está registrada na graphic novel As Sereias de Haarlem, dos brasileiros Felipe Pan e Gio Guimarães, publicada pela Nemo.

Existem muitos motivos para ler essa história. A graphic não só resgata a trajetória de uma mulher que teve a coragem de lutar pela liberdade, e que foi morta pelos nazistas, como arrasta o leitor para dentro das angústias e escolhas extremas de um passado sombrio, nesse caso, as escolhas dos que resistiram e lutaram nos Países Baixos, que só foi libertado da ocupação alemã em 1945.

O roteiro é simples, mas denso. Mostra Hannie Schaft, que como muitos jovens de sua época, era uma universitária que se tornou uma das mais preparadas “assassinas” do Raad van Verzer, o Conselho de Resistência. Ela ficou conhecida entre os nazistas como “a garota do cabelo vermelho”.

Ao se alistar ao grupo, a jovem foi colocada para atuar com outras duas mulheres. As irmãs e enfermeiras Freddie e Truus Oversteegen. Juntas, as três foram batizadas de as “sereias de Haarlem”, bairro onde moravam. Bonitas, inteligentes e perigosas, tornaram-se conhecidas por seduzir e tirar a vida de vários oficiais nazistas. O teste para integrar o grupo armado, inclusive, era ter a coragem de disparar um tiro à queima roupa num traidor de guerra. Nem Hannie nem suas amigas deixaram de ser aprovadas na primeira tentativa.

Além de registrar essa história poderosa, de cidadãos comuns que abandonaram suas vidas para combater a opressão do nazismo, Sereias de Haarlem prima pela qualidade no roteiro e nos desenhos, e no acabamento gráfico apurado. A escrita de Felipe Pan é, ao mesmo tempo, uma ode ao heroísmo e à luta travada por vários cidadãos europeus no período, mas principalmente uma homenagem à sororidade que unia as três mulheres. Ela entrega uma história carregada de sensibilidade, coragem e dilemas éticos, evitando retratos maniqueístas dessas mulheres reais.

Já o desenho de Gio Guimarães é um caso à parte: para ser fiel ao clima opressor, difuso, nebuloso, angustiante do período, ela optou por usar a técnica de aquarela - estilo largamente utilizado nos anos 30 e 40 - abusando dos tons cinza, branco e preto. Cor, no caso o vermelho, só foi usada para ressaltar os cabelos de Hannie e o sangue e a suástica dos inimigos. Delicada na forma, mas brutal no impacto, Giovanna assimila totalmente a sensibilidade e o horror do momento, retratando as cenas com o realismo necessário, mas também transmitindo toda a angústia que o trio experimentava ao exercer suas funções.

 

 

Serviço:

As sereias de Haarlem
Felipe Pan e Gio Guimarães
136 páginas - 92,90
Editora Nemo