Abel Menezes lança seu livro mais musical

Poeta pernambucano apresenta hoje, a partir das 17h, no Bar Barrio, Quase, livro-objeto que é uma homenagem à música e também às artes plásticas

O livro Quase, que será lançado hoje, tem formato de sanfona, musicalidade, beleza gráfica e plástica e a poesia marcante de Abel Menezes
O livro Quase, que será lançado hoje, tem formato de sanfona, musicalidade, beleza gráfica e plástica e a poesia marcante de Abel Menezes

O poeta Abel Menezes é um apaixonado pela música. Chegou a tocar acordeão na adolescência, mas confessa que lhe falta vocação, e desistiu da empreitada. Em tom bem-humorado, ele mesmo define-se como péssimo na execução do instrumento. A falta de expertise, no entanto, não o afastou da musicalidade, das melodias, nem de dotar sonoridade no que toca. Aproveitando sua extrema intimidade com a poesia, com as palavras, lança nesta quinta-feira um livro-objeto que é uma verdadeira ode à música, ao acordeão, e a mestres como Luiz Gonzaga, a quem conheceu e admira. A partir das 17h, no Bar Barrio, no Largo do Varadouro, em Olinda, o artista lança Quase, seu livro mais sonoro. Uma homenagem às suas musas: a música e a poesia. 

O poeta admite que Quase é um livro musical, e que alguns versos foram pensados para serem cantados. Não à toa, o livro vem com um QR-Code onde os leitores poderão ouvir Abel Menezes declamando  67 poemas, em diálogo com um  desenho sonoro concebido e dirigido pelo músico e compositor Raphael Costa, além da participação especial de Marcelo Jeneci e Gilú Amaral.

O trabalho em forma de sanfona, que pode ser lido do começo ao fim, mas que também se apresenta a experimentações do leitor - que pode adaptar à leitura à ordem que deseja -  traz 373 poemas curtos, haicais, aforismos, de temática ampla. Abrangendo o próprio fazer poético e o viver de cada dia, o livro foi publicado sob a coordenação de Maria Alice Amorim, escritora e fundadora da Zanzar, editora que a partir do Recife vem produzindo publicações nas áreas de literatura, artes visuais e cultura popular.

 “Quase foi concebido para o formato sanfona, os poemas distribuídos de cinco em cinco a cada página e, entremeando blocos de páginas de poemas, cortinas com poemas gráficos do artista Petrônio Cunha, que criou, com a técnica de recorte e colagem, diversas imagens que dialogam com poemas de Abel. “, explica Maria Alice

A expressividade característica das obras de Petrônio se destaca e enriquece ainda mais o livro, numa interlocução de linguagens poéticas e visualidades, que também desfrutamos na capa, quarta capa, na abertura e fechamento das duas faces do fole do livro-sanfona.

A obra poderá ser “tocada“ dos dois lados e tem quase 50 páginas em cada face. Parte do acabamento e montagem foi executada em processo artesanal, para ser folheado como uma sanfoninha, o tradicional oito baixos. Através de um QR code, com acesso irrestrito, 67 dos poemas do livro podem ser ouvidos na fala-canto do autor, em diálogo com desenho sonoro concebido e dirigido pelo músico e compositor Raphael Costa, mais a participação especial de Marcelo Jeneci e Gilú Amaral.

Quase atesta a plena vitalidade do percurso poético de Abel Menezes, iniciado em 1987, com a publicação do poema Recife no livro Álbum do Recife, editado por Jaci Bezerra em homenagem aos 450 anos da cidade. É um livro que pode ser lido da forma que o leitor deseja: seja 

Nascido em Caruaru, é poeta, letrista, médico, tem mestrado (UFPE, 2001) e doutorado (PUC-SP - 2010) em Antropologia. Publicou Álbum do Recife, antologia de poetas, pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, em 1987; Delírica Dança, ed. Pomba-Gira Palavra (Recife, 1988); A gargalhada a-final, ed. Hucitec (São Paulo, 1996); Poesia Viva do Recife, 100 poetas, Cepe (Recife, 1996); Tramas da Vida, ed. Maya (Recife, 2015); Capibaribe Vivo, ed. Coletivo Parque Capibaribe (Recife, 2015); Mnemosyne, Zanzar Edições (Recife, 2017); Encarnação: Sapho-Nietzsche-Van Gogh, Zanzar Edições (Recife, 2023).

Ping-pong

Você tentou ser músico, mas reconhece que não tinha o talento necessário para tanto. Quase é um livro musical? Sua forma de tocar sanfona e cantar versos? 

Quase é um livro musical. Minha maior inspiração, toda tentativa é elevar a voz à altura da música brasileira

A frase de Mallarmé “resque, c’est presque rien” (quase é quase nada lhe inspirou) foi uma inspiração para este livro. Por qual motivo?

Quase é instante e antes. É algo em que já estamos e é uma potencialidade para o que possa vir-a- ser. É um livro é uma sanfoninha. É poesia e é música. Quando buscamos, esticamos além do limite da linguagem, isso pode dar em nada ou quase uma arte.

Os poemas gráficos de Petrônio Cunha. Fale um pouco sobre como eles complementam a obra?

 Os poemas são anteriores, Petrônio se inspirou nos poemas, para fazer seus próprios poemas gráficos. Tradução, transcriação.

O livro remete à música, não só por imitar uma sanfona, mas também por trazer um texto musical.  E corteja claramente a literatura, além das artes plásticas. Você intencionalmente quis produzir uma obra que fizesse menção a várias artes? 

Escrevo e danço e reescrevo o texto. Diálogo com várias artes: teatro, dança, cinema, literatura, artes plásticas, música, canções. O núcleo dessa mandala é a poesia.

Você afirma que Júlio Cortázar, além de Osman Lins, é um dos autores que o influenciaram. Também afirmou que seu livro pode ser lido da forma como o leitor desejar. É o seu Jogo da Amarelinha (livro publicado pelo argentino em 1963)?

Pra mim a escrita fica clara se imagino uma estrutura. No meu livro A Gargalhada A-Final a estrutura é o livro de sabedoria chinesa I Ching e o Código Genético, o Genoma. Ambos dispõem de 4 letras, que combinadas 3 a 3 dão 64 possibilidades. Os chineses codificaram o tempo e a ciência codifica a reprodução da Vida. No meu livro Tramas da Vida, a estrutura são os chakras, campos energéticos, magnéticos dos nossos corpos. O Avalovara, de Osman Lins, e o Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar, têm o labirinto como estrutura. E prendem o leitor dentro. Tentei deixar o leitor livre, com uma estrutura em espiral ou um círculo rodopiante infinito: oroboro.

 

O livro foi editado pela Zanzar, uma editora comandada pela escritora Maria Alice Amorim que vem publicando livros de arte de uma forma primorosa, apesar das dificuldades, atualmente, dos autores independentes em produzir livros de luxo, de alta qualidade. Como foi a caminhada para apresentar ao público um trabalho desses?

Sempre gostei muito de livros, principalmente os que casam bem conteúdo e forma. Sempre curti muito também a produção de poemas e textos em edições de autor, artesanais e de pequena tiragem, ou seja, propostas editoriais independentes, livres de apelo comercial. Mas não é nada barato, nem fácil, colocar em prática essa ideia de fisgar textos interessantes e fazer escolhas gráficas para edições bonitas desses textos. Ao longo do percurso da Zanzar, o que conseguimos realizar teve, em alguns casos, o financiamento de leis de incentivo à cultura, a exemplo de Funcultura e PNAB, mas contamos sobretudo com o autofinanciamento das publicações, pré-venda e ações colaborativas entre amigos artistas visuais, artistas gráficos, fotógrafos, designers, escritores.

Serviço

Lançamento do livro Quase

Quando : nesta quinta-feira, 18 de setembro

Onde: Bar Barrio

Endereço: Rua Joaquim Nabuco, 5 - Largo do Varadouro / Olinda - PE

Número de páginas : 96 

Preço: R$ 130,00