Meio século de Bernarda Soledade e Major Façanha comemorados na UBE

Livros de Raimundo Carrero e de Maximiano Campos completam 50 anos e recebem homenagens de escritores pernambucanos nesta noite de quinta feira

Lucia Alvez, Evandro, Mário Hélio, Carrero e Antônio Campos: juntos na UBE comemorando meio século de Bernarda Soledade e Major Façanha
Lucia Alvez, Evandro, Mário Hélio, Carrero e Antônio Campos: juntos na UBE comemorando meio século de Bernarda Soledade e Major Façanha

Uma festa dupla, para dois clássicos da literatura pernambucana: nesta quinta, a União Brasileira de Escritores - seção PE -  comemorou os 50 anos de dois livros de importantes autores estaduais. O romance  A história de Bernarda Soledade - A tigre do Sertão, de Raimundo Carrero, e a novela Major Façanha, de Maximiano Campos.

A solenidade para lembrar o meio século de publicação  das duas obras se deu nesta quinta à noite, dia 7, com a presença de Raimundo Carrero e do filho do escritor Maximiano Campos, o advogado e escritor Antônio Campos. Para saudá-los, vários nomes do mundo literário: a presidente da UBE, Lúcia Sousa, que recebeu os convidados na sede da entidade, em Casa Forte; o presidente da Academia Brasileira de Artes e Letras, o escritor e maestro Moisés da Paixão; e o escritor e editor das revistas Pernambuco e Continente, Mário Hélio Gomes de Lima.

A abertura do evento foi realizada pelo vice-presidente da UBE, Evandro Barbosa, que comemorou o meio século de vida de Major Façanha, lembrando que Maximiano Campos foi um “domador de sonhos”, e que sua ligação com a UBE era fortíssima. “Maximiano cultivou forte ligação com esta casa, a qual era filiado.”, disse.

Em seguida, emocionado, Moisés da Paixão lembrou a convivência com Raimundo Carrero, a quem conheceu ainda criança, no Sertão, em Salgueiro, época em que ele estudava música,  incentivado pela sua mãe.

“Minha amizade com Carrero vem de muitas décadas. Acompanhei toda sua trajetória como jornalista, escritor e romancista. Uma trajetória coroada e cheia de vitórias, dos quais o romance Bernarda Soledade é um dos mais belos frutos.E  que a partir de 2024 passou a dar seu nome ao salão onde agora comemoramos sua trajetória”

O evento foi seguido de apresentação do Coral Vozes Pernambucanas da Assembleia Legislativa de Pernambuco, que executou quatro canções, entre elas o hino da UBE.

Emocionado, Carrero foi convidado a falar sobre seu trabalho, e revelou na ocasião que tem dois mestres em sua trajetória profissional. Um deles, o escritor Ariano Suassuna, que lhe guiou pelo universo da escrita, e com quem manteve convivência íntima. O segundo, revelou Carrero, foi o próprio Moisés da Paixão, que como maestro teve enorme importância nos seus primeiros anos, quando participou de aulas de música em Salgueiro e pensava em tornar-se músico. “Eu sempre fui discípulo de Moisés e de Ariano Suassuna, meus dois grandes mestres.”, enfatizou o escritor.

Para representar Maximiano, Antônio Campos lembrou da importância de comemorar os 50 anos de Major Façanha especificamente na noite desta quinta, 7 de agosto, data em que ele morreu. “Há 27 anos faleceu Maximiano Campos. Foi para outra dimensão e se encantou.”, afirmou Antônio.

Ele também ressaltou que as comemorações de Major Façanha marcam a retomada dos trabalhos do Instituto Maximiano Campos, que se prepara para relançar um romance ainda inédito do autor, no próximo ano,  e cerca de 50 contos que ainda não foram publicados. “Maximiano foi um dos maiores contistas que o País já conheceu, disse Antônio.

O jornalista Mário Hélio fez um discurso para saudar os dois escritores, lembrando que, antes de tudo, naquele evento. todos eram amigos, e todos se aproximaram devido à literatura. “Estamos aqui para celebrar dois grandes escritores que eram também amigos. Em pontos extremos, escrevendo sobre temáticas diferentes. Com uma capacidade não só de contar histórias, mas de entender os mecanismos inconscientes e explicá-los. E com algo em comum: ambos donos de uma intensidade emocional. Ambos marcados por muita energia. Isso é uma grande virtude não só para a literatura mas para a vida.”, completou Mário Hélio.

O final do evento foi marcado pela entrega de um quadro de Maximiano Campos - pelo seu filho Antônio -, que agora pertence ao acervo da instituição.

A novela Major Façanha - que será reeditada pelo Instituto Maximiano Campos - é um livro bem humorado, que mostra a transição de tempos: um antigo dono de engenho se aposenta e vai morar em Candeias - à época ainda um local de veraneio - o que o faz viver entre duas realidades. A do passado, seu período de glória, onde era dono das terras e de tudo que lhes rodeava e o da atualidade, um velho numa cidade onde o ritmo é outro, os costumes são outros, e seu mundo não existe mais.

Já Bernarda Soledade , apelidada de a tigre do Sertão, é uma personagem inspirada na força mítica das grandes mulheres sertanejas, uma figura trágica e ao mesmo tempo feroz, símbolo de resistência e desespero. Uma das grandes personagens de Carrero.