São cinco livros, cinco vencedores. Todos de boa qualidade, exercitando a ficção, a poesia, a ironia, a crítica, a corrosão. É assim o Prêmio Pernambuco de Literatura, promovido pelo Governo do Estado, ainda na gestão Eduardo Campos, através da Secretaria de Cultura/Fundarpe, com o apoio editorial da Companhia Editora de Pernambuco — Cepe, que lançou em março os livros dos vencedores: Fernando Monteiro, Bruno Liberal, Joseilson Ferreira, Delmo Montenegro e Walther Moreira Santos.

 

O Olho morto amarelo, de Bruno Liberal, convoca o leitor também para um pesadelo — o pesadelo de ficar cego para ver. Um tema recorrente na literatura. Observa-se aqui um estilo simples, direto e conciso, às vezes ingênuo, mas desta ingenuidade que preserva a pureza do narrador que opta pela história, deixando de lado o trágico e o dramático. Esta é, sem dúvida, a melhor qualidade de Olho morto amarelo, desprezando a eloquência dramática ou trágica de momentos decisivos do conto, permitindo que o leitor sinta e dramatize. Uma decisão correta e firme e que coloca Bruno Liberal na linha dos contistas conscientes. Isto é o que de melhor se pode observar aqui, sem esquecer os personagens, que já entram na história com o destino traçado e que se mantêm corajosos, mesmo equilibrados, demonstrando até mesmo uma certa frieza diante do inevitável. É assim que em Bruno pode-se falar numa estética do equilíbrio e da aceitação, tomando como princípio a sequência de frases leves, que se movem para formar um tecido sutil, elegante e firme. Ele nunca perde o controle, mesmo quando escreve em O instante da nuvem negra: “Ele poderia gritar um grito dilacerado, um grito de ódio. Transfundir um excesso de fúria verbal na mesa e acertar as contas de todos. Esganar aquelas existências tão sublimes, tão encantadoras. Tão jovens.”

 

Reparem que os verbos “gritar”, “transfundir’ e “esganar” ganham aí um conteúdo sublime e deixam que as frases caminhem para a leveza e para a precisão, como se fossem touros pacificados. Palavras, aliás, que em Walther Moreira Santos, de O metal de que somos feitos, vivem a força que têm na verdade, revelando a natureza de um narrador seguro, firme e forte, e o estilo de um escritor maduro, que conhece os meandros de sua resoluta narrativa. Walther escreve em tom de fábula numa narrativa que se aproxima dos mitos e dos símbolos da antiguidade, reforçando o contador de histórias, com algo de sagrado, muitas vezes mostrando a metáfora cristã do carpinteiro, do homem simples que nasceu para inventar fórmulas e destinos. Não é sem razão, portanto, que o início da narrativa lembre a infância de Jesus Cristo, o filho do carpinteiro e também carpinteiro na elaboração dos próprios caminhos. Artesanato e invenção representam aspectos decisivos da prosa de Walther, grandiosa prosa.

 

Na poesia de Delmo Montenegro, do livro Recife, no hay, vamos encontrar a capacidade criadora aliada ao experimentalismo e à ironia para revelar um escritor que vai muito além da tradição para fundar um universo poético pessoal e intransferível, como se diz nos documentos, superando as fórmulas feitas e tradicionais. Invenção, pura invenção. É, pois, na invenção, que Delmo critica e ironiza a cidade e seus habitantes, sobretudo estes habitantes intelectuais e seus conceitos vencidos. Em certo sentido lembra um certo Dante, cujos personagens queimam na fogueira das vaidades e da crítica.

 

Em Joseilson Ferreira, da obra Discursos e anatomias, pode-se compactuar com o zelo pela tradição, sobretudo pela influência exercida por João Cabral de Melo Neto, Jaci Bezerra, Marcus Accioly e Mauro Mota, sem perder o caráter pessoal, personalíssimo. Em Delmo podemos nos aproximar de Joaquim Cardoso e Cesar Leal, mas em Joseilson, podemos dialogar mais prontamente com Jaci Bezerra e João Cabral de Melo Neto.Joseilson é um poeta pernambucano, pernambucaníssimo.