Um sonho maravilhoso
que atravessa países e anos
Um sonho maravilhoso
que atravessa doenças e ausências [nota 1]
Quais imagens atravessam o sonho de um poeta latino-americano que quando vem a noite se joga em seu colchão de palha? Que tipo de ajustamento criativo é feito durante um sonho capaz de atravessar o espaço, o tempo, o corpo e a falta? Como as formas do inconsciente vêm até a superfície na poética do escritor chileno Roberto Bolaño (1953–2003)? A premissa deste ensaio está na afirmação de que ser poeta é escolher o desenho de olhos fechados. E, precisamente nessa decisão, encontra-se uma espécie de fascínio e surpresa, de que fala Silvina Lopes Rodrigues[nota 2], porque na poesia é possível que o pensamento da imagem esteja em contato com tensões da linguagem e, desse modo, fazer com que se conheça o espaço de corte entre o ver e o dizer.
A Universidade Desconhecida, a compilação de poemas de Roberto Bolaño, foi bastante esperada pelos leitores brasileiros que acompanham a obra do chileno, sobretudo, porque o conjunto de poemas parece uma espécie de atestado de que Bolaño podia fazer qualquer coisa com a literatura. O espanto que nos alcança diante da crescente de seus contos e de seus romances tornou-se habitual, ao longo da chegada de cada livro ao Brasil, como se o horror ali estivesse transformado em vida; como se fosse possível que todos nós, os latino-americanos, usássemos as mãos e o coração para manusear o que de mais horroroso e violento existe em nossa História. Seus personagens são responsáveis por excelentes pactos de leitura, orientando os leitores em cenas inesquecíveis, digressões filosóficas, referências literárias, piadas absurdas. Sempre foi um misto de prazer e profunda agonia entranhada ler Roberto Bolaño.
Também sua persona ficou marcada em entrevistas emblemáticas e, às vezes, a sensação é de esgotamento pois são anos olhando para aquele rosto irônico, um pouco arrogante, no qual encaramos a sombra e a anima de um povo cansado de seu passado e de seu futuro. Em meio a esse cenário simbólico literário, Bolaño é um poeta. E está aí, precisamente nesta afirmação, um ponto dicotômico, entre fuga e permanência, de todas as possibilidades narrativas e estéticas criadas em sua produção literária. A poesia sempre foi parte de seu cotidiano, mas, por questões econômicas, ele insistiu na prosa; “Não se ganha dinheiro escrevendo poemas”[nota 3], disse, e não há como se negar que estava lúcido em sua observação.
Recém-publicado, no Brasil, pela Companhia das Letras e com importante trabalho de tradução da poeta e tradutora Josely Vianna Baptista, A Universidade Desconhecida foi lançado em 2007, sendo o primeiro material póstumo do autor. De acordo com Carolina López, no paratexto intitulado Breve história do livro, o embrião da publicação estava nos arquivos de Bolaño que, em 1993, já diagnosticado com uma doença hepática degenerativa, começou a organizar seus poemas desde o final dos anos 1970 até aquele presente momento. Dessa maneira, o livro é mesmo um caminho que circunda todo processo de criação do autor, que começou a publicar no começo dos anos 1990. A companhia de sua última década de vida foi a organização e, em última instância, o nascimento deste volume, um legado que se orienta em pequenos cardumes entre desejo e morte. Sobre essa relação, escreve Georges Didi-Huberman: “O desejo move cada gesto, mas cada gesto do desejo comporta uma certa relação com a morte”.[nota 4] No poema Prosa de outono em Girona, lemos quase como um sussurro: “Sou volúvel, às vezes desejo a grandeza, outras vezes, só sua sombra”. E assim, nesse movimento mambembe de grandes pulsões, A Universidade Desconhecida ergue-se em nossa direção. O livro divide-se em três partes e, em cada uma delas, um conjunto de títulos dão um formato cíclico que culmina em O final feliz.
Por meio dos desenhos a seguir, pretendo que se forme uma arqueologia imagética da poesia de Roberto Bolaño. Da mesma maneira vista em Didi-Huberman e Aby Warburg, a vontade é de que as imagens em seus poemas sejam lidas como várias pistas que vão de encontro à historicidade. Não existe uma categorização dessas imagens, ou divisão exata por temática e, muito menos, este texto pretende analisar lírica e métrica. São nesses desenhos que será possível ver o tipo de ajustamento criativo pelo qual Bolaño deslizou. Como pintar alguém que não se vê? Algo está para emergir diante dos Olhos que não tiveram escolha em escapar da verdadeira violência.
O DESENHO DA SAÚDE
Em termos de estrutura do corpo, a doença é uma nova maneira de vida para o organismo porque apela para uma outra dinâmica de equilíbrio entre o corpo doente e o mundo que o circunda. Em Phenomenology of illness (2016), Havi Carel compreende a doença como maneira de filosofar, um tipo de motivação radical para alterações de novas perspectivas. Nesse contexto, o tema da enfermidade sempre foi destrinchado nos textos de Bolaño como um tipo de literatura enferma e, após o seu diagnóstico, tornou-se tema-objeto incorporado como se, na verdade, a sua escrita precisasse (também) de nova dinâmica de equilíbrio. No poema autobiográfico Devoção de Roberto Bolaño, encontra-se este trecho, no qual, novamente, doença e sonho se comunicam: “No final de 1992 ele estava muito doente e tinha se separado da mulher./ Esta era a maldita verdade:/ estava sozinho e fodido/ e costumava pensar que lhe restava pouco tempo./ Mas os sonhos, alheios à doença,/ apareciam toda noite/ com uma fidelidade que conseguia espantá-lo”. Assim, mesmo sentindo que a doença o afunda e leva para um continuum de solidão, algo resiste nessa configuração de mundo: o sonho.
Em entrevista ao colunista Javier Campos,[nota 5] fica mais explícito como se pode definir essa literatura enferma. Na conversa, ele afirma que sempre foi contra o que chama de “poesia de partido”, mas que acredita em um tipo de beleza: “[…] a beleza inútil sempre está — e essa é precisamente sua soberania, sua elegância extrema — ao lado dos despossuídos, dos enfermos, dos perdedores, e que, ao término de um périplo nem sempre mensurável, ela volta para perto deles, volta a essa zona misteriosa e cotidiana em que, para sermos compreendidos (mas unicamente para compreender-nos), chamamos o povo, os cidadãos, os trabalhadores. E também, como não, os vagabundos não trabalhadores”.
Nesse sentido, pensar em uma literatura que parte da enfermidade não se trata de ir em busca de saúde: pelo menos, não da saúde que conhecemos, padronizada pela violência institucional do Estado e de seu sistema demandante. Poderíamos associar, em um primeiro momento, esta imagem com a ideia, que bastante se repete em estudos literários, de Gilles Deleuze: literatura é uma saúde. O que o filósofo desenvolve em Crítica e clínica (1997) está ligado a um movimento de busca dos escritores por alguma coisa que ajude em sua “frágil saúde irresistível”, ou seja, a escrita como uma forma de gerar sentimento saudável e, potencialmente, tipos de cura ou de sensações de alívio, inclusive, diante de sistemas políticos opressores. Também em textos de Jacques Derrida,[nota 6] entre outros teóricos, lemos extensas análises acerca do eixo doença, saúde e escrita. Todo esse acervo sobre o tema encontra em Bolaño uma potência máxima de fusão.
Seus versos remontam a uma engrenagem na qual saúde e doença convivem no mesmo espaço, são indissociáveis. A relação da arte como saída para um respiro diante dos males e delírios do corpo é estudada tanto em disciplinas da literatura, quanto da psicologia e sociologia; tem-se uma lista de escritores que passaram por doenças e encontraram na escrita o seu alento, mas, neste caso, não há descanso, pois, para Bolaño, não é na vitalidade que se acha a beleza inútil. A questão que aparece em sua poesia é: Afinal, o que é estar com saúde?
Propor a literatura enferma é evidenciar uma condição, um motivo para que se escreva em estado de perda. Não se procura pelo encontro mágico com a catarse da arte, não se coloca o escritor como detentor de phármakon, pelo contrário: deve-se permanecer em fragilidade, porque se entende que a saúde é sustentar o incômodo. No último fragmento de O romance neve, tem-se a sequência: “Nunca ficar doente Perder todas as batalhas/ Fumar com os olhos semicerrados e recitar bardos provençais/ no vaivém solitário das fronteiras/ Isso pode ser a derrota mas também o mar/ e as tabernas O signo que equilibra/ sua imaturidade premeditada e as alegorias/ Ser um e frágil e se mover”. Em outro trecho do extenso poema Neochilenos está a definição de Pancho Ferri, companheiro de viagem, como “Um sujeito de sorte/ O grande amante doente do sul do Chile”.
Em sua poética, apesar da ordem “Nunca ficar doente”, caminha-se mesmo quando frágil, sem forças. Também não é estranho ter sorte ao mesmo tempo em que se é um amante doente. Dessa maneira, estar com saúde é utilizar a doença como motor de sobrevivência, é estar em constante ajuste com o mundo, encontrando vivacidade no organismo que se nega a seguir um formato pré-estabelecido, conhecido, comum. E, não por acaso, é nesse lugar que o sonho persiste. É quando a imagem da doença irrompe que o sonho continua a ser atitude de encanto: “Doente e sozinho, ele sonhava/ e enfrentava os dias que marchavam inexoráveis rumo ao final de outro ano”, continua o poema Devoção de Roberto Bolaño.
Nos seus estudos em Phenomenology of illness, Carel refere-se à doença também a partir de cinco tipos de perdas: completude, certeza, controle, liberdade e familiaridade. Essa sensação de que tanto foi embora, mesmo que momentânea, conduz muitos dos poemas de A Universidade Desconhecida. O estar doente, as nuances entre morte e desejo, o jeito errante com o qual Bolaño sempre levou a sua vida pessoal e o dia a dia de seus personagens, o sumiço da liberdade, da certeza e da familiaridade imposto pela ditadura, tudo isso dá forma à escrita da enfermidade. Um trecho do fragmento inicial de Gente que se afasta, intitulado Fachada, é um exemplo da perda profunda em curso, também como ritmo da narrativa: “Está tudo velho. Não é um fenômeno de agora. Tudo detonado já faz muito tempo. E os espanhóis imitam seu jeito de falar sul-americano. Uma alameda de palmeiras. Tudo lento e asmático. Das janelas, biólogos entediados contemplam a chuva. Não adianta cantar com sentimento. Minha querida, seja você quem for, onde quer que você esteja: não há mais o que fazer, as cartas foram lançadas e vi meu desenho, já não é necessário o gesto que nunca chegou.”
Então, tudo segue lento e asmático e, desta maneira, este desenho da saúde, torna-se algo muito próximo ao corpo debilitado, com movimentos comprometidos, sozinho, desistindo do gesto mesmo antes dele se anunciar. Para se estar com saúde é preciso reconhecer que muito já foi detonado e que o remédio, se é que ele existe, só pode vir de todas as partes vagabundas e dilaceradas de nós. Para se estar com saúde é necessário que se desenhe também o que de mais precário é imposto, o que de mais deficiente nos apresentam como sustentação.
O DESENHO DA PRECARIEDADE
Em Cruel optimism (2007), Lauren Berlant investiga a ideia de precariedade também como forma de “classe afetiva”. Para a pesquisadora, existe um ponto do precário que produz subjetividade e, dessa forma, corpos e grupos que não estão sempre na mesma posição dentro da estrutura da desigualdade, acabam por dividir o mesmo imaginário afetivo, pois estão sob uma lógica de desproteção na dinâmica da sociedade neoliberal. Na poética bolaniana, esse tipo de desproteção e de rechaço à sociedade neoliberal está no centro e dele se expande em perguntas sobre a poesia como ofício e a literatura como trabalho.
No poema Minha carreira literária, situa-se uma lista de editoras que recusaram o trabalho do chileno e, em seguida, estes versos: “Debaixo da ponte, enquanto chove, uma oportunidade de ouro/ [para olhar para mim mesmo:/ como uma cobra no Polo Norte, mas escrevendo/ Escrevendo poesia no país dos imbecis./ Escrevendo com meu filho nos joelhos/ Escrevendo até que a noite caia/ com um estrondo de mil demônios./ Os demônios que hão de levar-me ao inferno,/ mas escrevendo”. Assim, o que se vê de precário está, em especial, no fazer literário: escrever é uma maneira de encontrar-se em precariedade e, ato contínuo, produzi-la como classe afetiva. O poeta não dorme, não se deixa afetar pelo país em decadência, nem pela presença do filho: o poeta, embaixo da ponte, escreve. E não porque é a única coisa que lhe resta, mas porque é o seu emprego.
Nesse aspecto, Gabriel Giorgi, em seu texto La incompetente: Precariedad, trabajo e literatura (2019) lembra da figura do escritor e do artista como um incompetente dentro das inflexões do capitalismo, um tipo de representação que surge em diversas narrações do precário. O errante, o escritor sem dinheiro, vagabundo e contraprodutivo, são personas que atravessam todo o imaginário de Bolaño. Também a sua realidade de vida corresponde a esse tipo de personagem, como vimos na fala do autor sobre deixar a poesia de lado porque é na prosa que se consegue algum retorno financeiro. Existe uma condição do precário que surge como premissa da poesia e que coloca o poeta ainda mais abaixo diante das categorias capitalistas. Para o poeta, os restos e nenhum preço justo.
Em Horda, poema de Manifesto e posições, poetas invadem o sonho de Bolaño para sumir com seus ossos e seus escritos: “Poetas da Espanha e da América Latina, o mais infame/ Da literatura, surgiram como ratos das profundezas de meu sonho/ E alinharam seus guinchos num coro de vozes brancas:/ Não se preocupe, Roberto, disseram, vamos nos encarregar/ De fazê-lo desaparecer, nem em seus ossos imaculados/ Nem seus escritos que cuspimos e plagiamos habilmente/ Emergirão do naufrágio […]”. À precariedade, soma-se o desprezo pela poesia de língua espanhola e hispano-americana, um espaço de inserção que Bolaño criticou e, ao mesmo tempo, quis muito participar. No sonho, os poetas são reduzidos a capangas, e nomes como Octavio Paz e Pablo Neruda são citados de maneira irônica. Poesia é precariedade e esses poetas de vozes brancas não sabem disso.
Na poesia chilena, o corpo que também esteve no imaginário afetivo-precário próximo ao de Bolaño, foi o de Nicanor Parra. “Todo se lo debo a Parra”, afirmou ele, menos como uma homenagem e mais como uma aproximação estética e política. Focados em uma contínua negação ao sistema, ambos demandaram, em vida e obra, as questões entre literatura e precariedade. A ideia da antipoesia, vista por Parra nos anos 1950, com a publicação de Poemas y antipoemas (1954), aparece na obra bolaniana, em um primeiro momento, para encaminhar os dois ao que Benjamin Loy [nota 7] chamará de revisão da Modernidade. Para o pesquisador, as duas obras partem de uma ideia de destruição de mundo na qual não há espaço para grandes revoluções históricas e artísticas. Ou seja, existe nos versos de Parra e Bolaño uma falta de esperança que se debate dentro das questões modernas e de vanguarda, questionando o cânone literário e a forma como se dão os discursos hegemônicos que os cerca.
No segundo momento, estão próximos no que diz respeito à falta de dignidade perante o fazer literário e o fazer mundo. A antipoesia surgiu como resposta às dignas poesias líricas tradicionais e à cultura das elites. Assim, Parra, deslocado de sua terra natal, começou a desmontar a linguagem de poder que se formou com tais movimentos e aproximou a poesia do que é tido como popular, subjetivo. O fazer literário, então, torna-se próximo ao fazer mundo em sua falta: o poeta é alguém que não tem orgulho do universo moderno e de suas grandes instituições. Tornar-se antipoeta é desenhar uma comunidade que não existe. É chorar porque se vê arruinado por sua própria escrita; é não enxergar o outro, e mesmo assim insistir na palavra: “Quem diabos vai se importar com o que escrevo?/ A quem servirá de algo o que eu escrever?”.
O DESENHO DA EMOÇÃO
Em um breve colóquio intitulado Que emoção! Que emoção! (2013), Didi-Huberman relembra a importância do choro para a nossa formação psíquica coletiva. Em sua fala, o filósofo afirma que, na filosofia grega, a emoção é um impasse. “[…] impasse da linguagem (emocionado, fico mudo, não consigo achar palavras); impasse do pensamento (emocionado, perco todas as referências); impasse de ação (emocionado, fico de braços moles, incapaz de me mexer, como se uma serpente invisível me imobilizasse)”. Na querela pathos versus logos, ele ressalta que a emoção não é apenas um “defeito da razão”, e o que choro está presente no momento mais necessário de nossas vidas: o nascimento.
A emoção é o último desenho deste conjunto de imagens bolanianas porque encontra-se inacabada dentro da poética do autor. No esboço de impasses, o poeta vivencia a emoção não só em instâncias do afeto, da tristeza e da melancolia, mas também como uma incapacidade de render-se à literatura que se diz arte da razão; a literatura que é conhecimento puro do intelecto. Para Bolaño, os poetas estão no deserto, no sonho, na praia, em uma luta de espadas; estão pelas ruas, sem rumo; estão em uma praça ao lado de cadáveres, em hospitais. Os poetas nunca estarão em sua torre, isolados para escrever, como se a escrita estivesse apartada da vida, das emoções.
Em Lola Paniagua, do livro São Roberto de Troia, alguém que tenta manter a distância, mas se vê sem ação, mudo, tão desgraçado que não consegue sonhar: “Contra você tentei ir embora me afastar/ o encerramento requeria velocidade/ mas no fim era você que abria a porta.// Você estava em qualquer coisa que pudesse caminhar chorar cair no poço/ e da clareza perguntava por minha saúde.// Estou mal Lola quase não sonho”. Aqui, a doença parece vencer o inconsciente e, assim, o poeta encara, mais uma vez, o seu destino entre o nascer e o morrer, uma “consciência ritmizante” que oscila ora no Eu, ora no mundo. No desenho da emoção, é possível deixar que o sonho suma e que os estímulos respondam à melancolia, ao que dói sem mediação simbólica.
No último parágrafo do conto O Olho Silva, parte da coletânea Putas assassinas, o personagem do amigo francês pergunta ao Olho: “[…] que barulho é esse, você está chorando?” E o Olho responde que sim, “que não conseguia parar de chorar, que não sabia o que estava acontecendo, que passava horas chorando”. Assim, no gesto que se faz, no mesmo instante, com armas e choro; no sonho que se perde e, depois, se acha cada vez mais brilhante, maravilhoso; nas terras de um continente surrado de escassez e violência; na doença que nunca vai embora, nunca deixa que o repouso domine; é onde perdura as ruínas de A Universidade Desconhecida. O Último viajante se despede, sem ter lugar exato de chegada, com os olhos fechados, em busca do próximo colchão de palha, chorando sem parar: “Não tinha para onde ir. Durante muito tempo/ vaguei pelos arredores do cinema/ em busca de uma cafeteria, de um bar aberto./ Estava tudo fechado, portas e venezianas, porém/ o mais curioso era que os edifícios pareciam vazios, como/ se as pessoas não morassem mais lá. Não tinha nada a fazer/ senão dar voltas e lembrar/ mas até minha memória começou a falhar”.
NOTAS
[nota 1] Poema intitulado Os anos, do livro Minha vida nos tubos de sobrevivência, presente na compilação A Universidade Desconhecida.
[nota 2] Essa definição está no ensaio Poesia: Uma decisão, pulicado na revista Aletria (2003), da UFMG.
[nota 3] A referência está no texto Retrato del artista como perro romântico: La poesía de Roberto Bolaño, de Luis Bagué Quiléz, publicado na revista Lectura y signo (2008), da Universidade de León (Espanha).
[nota 4] A citação está no livro Falenas (2015).
[nota 5] Entrevista disponível em português no site da revista Sibila: http://sibila.com.br/critica/entrevista-com-roberto-bolano/2093
[nota 6] Em A farmácia de Platão (1968), Derrida desenvolve uma análise do diálogo platônico passando por temas clássicos da filosofia, como a questão da verdade, o mundo das ideias, etc.
[nota 7] A referência está no texto Chistes par(r)a reordenar el canon: Roberto Bolaño, Nicanor Parra y la poesía chilena, publicado pela revista Romanische Studien (nº 1, 2015).