Dalton Trevisan sabe que uma “não-imagem” vale mais

Dalton Trevisan pode estar ao seu lado no restaurante, no parque, em qualquer lugar...” – Foi o que escutei, quase como ameaça, na primeira vez em que estive em Curitiba. Sou fascinado pelo vampiro-escritor (ou escritor-vampiro, será que nesse caso a ordem dos fatores altera o produto?) e fiquei ainda mais excitado ao saber que meu hotel ficava próximo à sua residência – por onde circulei várias vezes pela frente, na esperança de ser vampirizado.
Mais que vampiros, os curitibanos gostam de fantasmas, e em qualquer esquina você escuta alguma lenda sobre possíveis aparições do escritor. Dizem que ele é um velhinho simpático, bonachão, que todo dia lê os jornais numa banca de revistas perto de casa. Outras histórias falam de orgias, como se o Conde Drácula fosse Marquês de Sade. Minha imaginação, obviamente, prefere a segunda hipótese. Não quero pensar em Dalton sorrindo. 
Dalton talvez não tivesse se tornado Dalton se fosse acessível, concedesse entrevistas e, claro, aceitasse posar para fotografias. Palavras são importantes, porém mitos vendem mais. Sua “não-imagem” vale mais que mil imagens. Aquela sua foto esquiva, P&B, que tanto circula por aí, é sensacional por que venceu o anacronismo e permanece como o retrato fiel de um homem em fuga, que escapa dos nossos olhares – assim como os vampiros. A primeira vez que vi essa imagem ainda era criança, numa reportagem do Jornal Hoje, da Rede Globo, que destacava o feito do fotógrafo em capturar um frame do escritor. Nessa época, não sabia quem era Dalton ou mesmo o que era literatura, mas já tinha ouvido falar em vampiros e a história do homem que se protegia dos flashes (cintilantes e mortais como a luz do sol?) ficou retida em minha memória.
É bom saber que existem autores que entendem a importância de se resguardar de retratos, da mesma forma que existem outros fascinados e dependentes da sua imagem. É o caso de Lucila Nogueira.  Em seu novo livro, Casta Maladiva, a autora volta a colocar sua imagem na capa – obsessão ao longo dessa década. Desta vez, aproveitou o ensaio que fez para a edição do Pernambuco de setembro, realizado numa boate Nox vazia e iluminada.
“Eu gosto de colocar minhas fotos nos livros por que um livro de poesia é carente, ele precisa da imagem do autor para fazer companhia ao leitor”, revela Lucila sobre sua obsessão de sempre se revelar para além das palavras, contrariando o exemplo do vampiro. (Schneider Carpeggiani)