chacal

 

A Companhia das Letras divulgou recentemente a capa e os nomes que compõem a antologia É agora como nunca – antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira. A obra, capitaneada por Adriana Calcanhotto, está prevista para ser lançada em 19 de fevereiro.

A partir desse lançamento e dos 40 anos da antologia 26 poetas hoje – organizada em 1976 por Heloísa Buarque de Hollanda –, publicamos, há duas semanas, texto sobre o papel político das publicações que se propõem a ser reunião de poesia. Por isso, enviamos algumas perguntas a Chacal, poeta que sempre procurou exprimir a força das propostas estéticas e de conteúdo lançadas no bojo da chamada "geração mimeógrafo". A produção dele entrou no trabalho organizado por Buarque de Hollanda, há quatro décadas.

Pois bem: por motivos particulares, Chacal só conseguiu nos enviou as respostas agora. E vale dar uma lida nas ideias dele sobre os temas abordados: o papel de uma antologia de poesia, as possibilidades do trabalho de Calcanhotto, 26 poetas hoje e sobre o atual cenário poético brasileiro.

 

A Companhia das Letras lança em fevereiro a antologia de novos poetas É agora como nunca, organizada por Adriana Calcanhotto. Todos nascidos a partir dos anos 1970, de quando se difundiu o termo “poesia marginal”. Segundo a editora, não há critérios políticos dentre os usados para fazer a antologia. Gostaria que você comentasse o surgimento de uma antologia que será bastante divulgada (por ser Companhia das Letras e por ser Calcanhotto), mas que não tem qualquer preocupação em dialogar com um contexto político complexo como o que vivemos.

Fazer uma antologia é o mesmo que dar uma premiação. Vibram os contemplados. Reclamam os que não entram. Critério político é publicar bons e boas poetas. Não existem mais movimentos, propostas definidas, mas existe sempre boa poesia, que é o que importa. A melhor antologia é a estante da sua casa. Cada um tem a sua. Adriana é ótima artista. Não sei se está bem a par de quem anda escrevendo. Mas Alice Sant’anna, nova editora de poesia da Companhia das Letras, além de boa poeta, é dessa geração que está despontando forte. Adriana é grife. Tomara que venda bem e a Companhia se interesse mais pela poesia viva que se faz hoje. Luiz Schwartz foi um editor de poesia importante na época da Brasiliense, com a coleção Cantadas Literárias, que apostou nos poetas jovens e ferozes dos anos 1970 – vivos muito vivos e bem dispostos como Ana Cristina Cesar, Leminski, Cacaso, Chico Alvim, Ledusha, Waly Salomão, Alice Ruiz. Hoje, parece que a Companhia só acredita em poetas mortos. Enfim, problema dela. O que faz a poesia viva hoje em dia, são as pequenas e médias editoras que tem publicado muita poesia boa e a proliferação de recitais espalhados por todo país, essa a principal herança da poesia marginal dos anos 1970.

Na época de seu lançamento, 26 poetas hoje (lançada em 1976) causou certa celeuma por trazer muito da “poesia marginal” – à época considerada algo menor. Muita coisa mudou nesses 40 anos. Como enxerga, hoje, a antologia 26 poetas hoje?

Acho fraca. Não sangra. Não representa o vigor, a vitalidade da poesia marginal. Que, aliás, teria que ser registrada através de um filme, já que a performance, o corpo, é fundamental nela.

A existência de 26 poetas hoje sempre foi vinculada, pela crítica e pela própria organizadora, Heloísa Buarque de Holanda, a uma ideia de visibilidade da “poesia marginal”. Mas gostaria de ouvir suas considerações sobre isso: se concorda com essa interpretação e como enxerga o conjunto de poetas que ali está (do ponto de vista estético e de conteúdo).

A poesia marginal é muito maior que aquela antologia. A poesia marginal é uma arma antigrafocêntrica. A antologia ajuda a diluir o que já não tinha uma definição muito precisa. Mistura tropicalistas e outros mais que não tinham nenhuma identificação com a poesia urbana protopunk que se fazia na época. Não entendi direito as escolhas da professora. O seu caráter político [reconhecido pela organizadora no posfácio da edição de 1998] ficou enfraquecido por essa grande abrangência e falta de critérios mais precisos. Ficou uma antologia nebulosa. Nem um registro mais preciso da poesia marginal, nem uma coletânea apurada de poetas dos anos 1970. Uma antologia é muitas vezes o primeiro contato que o leitor tem com um poeta, que lê o livro por conta de poetas com quem ele tem mais afinidade. Não é um mergulho profundo na poesia de um poeta. Mas pode ser um bom trailer.

Qual o impacto de 26 poetas hoje na sua trajetória artística? Ajudou a divulgar, não influenciou em nada...?

Não acho que a antologia tenha ajudado muito. Acho que foi mais falada do que lida. A minha trajetória está mais ligada ao corpo a corpo, às performances, a distribuição de mão em mão. Drops de Abril, lançado pela Brasiliense, em 1982, com 6 mil exemplares vendidos, me deu muito mais visibilidade.

Como enxerga, hoje, o cenário poético brasileiro? Muito se fala em pluralidade de propostas e poéticas, todas coexistindo pacificamente e já longe das pretensões de ruptura das vanguardas.

Tem muita gente boa escrevendo. De várias gerações. Pequenas editoras proliferam. As grandes ainda acreditam que poeta bom é poeta morto. Essas deveriam investir mais na bolsa que em poesia. Acho muito bom esse fim da ruptura das vanguardas. Elas eram muito chatas, pretensiosas. Acho que o poeta pode e deve experimentar outras poéticas. Linguaviagem. Mas ficar fazendo discurso e posando de gênio da raça é muito chato. Escreva e deixe o outro escrever em paz.

 

 

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