Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
(Bertold Brecht)
E, no entanto, a terrível notícia não vai chegar porque a comunicação está interrompida. Riscos, ruídos, apelos, excessos. A sombra é bem mais densa do que se supunha.
Vivemos assombrados, abismados e ensimesmados. Encurvados. Ilhados e distraídos com o buraco do umbigo. Somos as próprias ilhas, cativeiro, e cada um está refém de si.
As parcas tentativas de comunicação são garrafas jogadas ao mar.
Não existe certeza de resposta no mundo que criamos. Na pressa que criamos. Na eficiência que intentamos desenvolver. E o amor? De que modo?
Maria Tereza e Guilherme querem o amor, cada um a sua maneira. Procuram o diálogo, mas não o encontram. Falam sozinhos na presença um do outro.
O que aconteceu com o diálogo que tentei conservar?
Perguntam-se em silêncio. Ainda em silêncio culpam ao outro por ter esquecido de guardar o que restou da última conversa, na geladeira. Embrulhado em papel alumínio.
Lançam-se olhares na intenção de sílabas. As mãos, vez por outra, querem fabricar palavras.
Mas...
As palavras, sem fôlego, não vencem a distância entre uma ilha e outra. Afogam-se.
Maria Tereza amaria Guilherme pelo resto de sua vida e, Guilherme, certamente faria o mesmo por ela. Se pudessem. Cada um faz o que pode: ela nem sempre pode falar com clareza o que quer e ele quase nunca o que sente.
Sinto muito: dizem-se com frequência.
Alguns hábitos aprenderam o caminho do erro entre eles. Um desencontro de objetivos e horários. E as bocas, em especial as bocas, não têm se encontrado amiúde.
Maria Tereza buscou a solidão, mas passou a atirar garrafas ao mar para vencer a queixa. Maria Tereza não entende da direção do vento, das marés, da influência da lua, nem sabe se o braço do mar será seu aliado. Ela apenas lança as garrafas, feito quem sorri para um cão que se coça na esquina da rua. Ou feito quem publica textos na internet.
E Guilherme?
*Orelha do romance Uma história de amor para Maria Tereza e Guilherme