3. A alcova
quero na alcova esquecer o espelho quero na alcova sorrir papoulas enegrecidas nas pálpebras das velhas colombinas do baile municipal quero ser só isso um rosto e nada uma máscara fraturada um não escondido só isso quero na alcova na alcova esquecer de tudo recriar o mundo meu paraÃso-playmobil minha ilha-anfetamina enterrar a beleza redentora do sexo arruinado dos meninos e das meninas em chamas
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28. O dia
eu levanto do meu dia e cambaleio feliz até a praça há no meu coração classe média um desejo de não ser há no meu coração classe média a rosa e o obus macerados meu coração classe média não quer essa fúria além do vidro além da alcova além do espelho viva a paz meninos de branco pisoteando pássaros estripados viva a paz um gol de placa antes da degola do inimigo viva a paz uma rosa murcha no cabelo da adúltera linchada na praça viva a paz viva a plácida paz do domingo dia de nosso senhor
19. VentrÃloquo
parir palavras mortas é o barato dessa nossa nova bossa o dia envenenado e a tarde uma amante velha que se abandona meninos passeiam felizes acorrentados a holofotes no teatro os bonecos lamentam à meia luz a voz que nunca tiveram mas seria o afã dos bonecos mais aterrador que o pânico sólido do ventrÃloquo que esmagado pelo desejo das marionetes esqueceu em alguma gaveta a sua voz primeira