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Publicamos, nos inéditos da edição de maio, um poema de Safo de Lesbos, grega do século VII a.C. e uma dos nove poetas líricos arcaicos da Grécia.

O poema é triste, fala da separação entre duas mulheres (seja pela morte ou pela partida de uma delas). Mas nos mostra o eu poético de sexualidade lésbica em primeira pessoa. Numa sociedade como a grega, na qual a homossexualidade era naturalizada, o poema não causava choques. No presente homofóbico em que vivemos, transforma-se em possível peça de resistência.  

O poema abaixo integra o livro Lírica grega, hoje (Editora Perspectiva). Nele, o professor, pesquisador e tradutor Trajano Vieira traduz 11 poetas da Antiguidade, dos quais pouco se sabe. 

 

***

 

A morte, para ser franca, é o que me desejo.
Ela me abandonou às lágrimas,

a um caudal de lágrimas, enquanto me dizia:
“Não foi pouco o que ambas sofremos,
Safo. Deixo-te, contrária ao meu coração”.

Segue o que lhe respondi:
“Leva o meu adeus! Preserva-me
em tua memória.
Não ignoras o quanto nos preocupamos contigo.

Caso não (te lembres)... permito-me
rememorar...
... o quanto da beleza provamos juntas.

Guirlandas, não faltaram nelas rosas
nem violetas...
... rente a mim depuseste,

tampouco grinaldas, inúmeras delas,
cujas tranças enlaçavam o colo frágil,
flores...

e... com o eflúvio
das flores...
que dignificaria uma rainha, te ungiste,

e na maciez do leito
jovial...
satisfazias tua volúpia...

Santuário não havia
um sequer...
em que não nos fizéssemos presentes,

nem bosque... dança... sonoridades...

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