Três poemas do norte-americano Frank O'Hara (1926-1966), em tradução de Paulo Henriques Britto e Beatriz Bastos. Integram o livro Meu coração está no bolso, da Luna Parque, uma seleta poética do autor em edição bilíngue. A obra será lançada no dia 23 de maio, no Olho da Rua (rua Bambina 6, Botafogo - Rio de Janeiro).
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A MEU PAI MORTO
Tradução: Paulo Henriques Britto
Não me chames não pai
onde quer que estejas sou
teu filhinho ainda
correndo no escuro eu não
poderia fazer o que dizes
nem mesmo se escutasse
tuas rosas não crescem mais
meu coração é negro como o
canteiro delas os delicados
espinhos viraram essa minha
barba incômoda que espeta
não deves pensar em flores
E não assustes meus olhos
azuis com brilhos castanhos
não engrosses meus lábios quando
encaro meu espelho não peças
que eu seja senão esse
teu filho estranho a entender
milagres menores não a morte
pai estou vivo! pai
perdoa às rosas e a mim
HOJE
Tradução: Beatriz Bastos
Ah! cangurus, paetês, milk-shakes!
Que beleza! Pérolas, gaitas,
jujubas, aspirinas! todas essas
coisas sobre as quais sempre se fala
ainda fazem de um poema uma surpresa!
Elas estão conosco todos os dias mesmo
que em casamatas e catafalcos. São coisas
com sentido. São fortes feito pedra.
PARA BILL BERKSON
(OLHANDO OUTRA VEZ PARA SÁBADO À NOITE)
Tradução: Beatriz Bastos
O que você deseja está debaixo da sua pele
debaixo da sua pele.