Bruna Beber Rafael Roncato Site

 

Os inéditos deste sábado são da poeta fluminense Bruna Beber. Um dos nomes mais conhecidos dentre as jovens autoras brasileiras, Beber lança seu quinto livro - Ladainha - dia 20 de junho na Livraria Tapera Taperá, em São Paulo, a partir das 18h. A obra é publicada pela editora Record. 

 

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71.

Na escada de incêndio
e sua inseparável
atmosfera de desastre

Um cego
de fones
tira fotos e grita

— Estamos todos juntos!
A rave do fim do mundo
é a mais longa de todas
São lindos os seus olhos
de ouriço, o foco turvejado
a dilatação, a queima

— Toda imagem é uma explosão,
e o que eu quero é criar
memória pros outros

Mas fatal mesmo é o jeito
de mexer as mãos, parece que pinta
longas estradas de terra.

 

79.

Poder é perigo
e hoje acordei
rindo

Dom é tom
e hoje acordei
rindo


Querer é criatura
e hoje acordei
rindo

Na cara a boca
na pia o prato
sujos de feijão.



131.

Sempre limpo os pés antes de entrar
no sono e aí um frango inteiro lindo
e cru me tira para dançar


O filme é a revolta dos folclores e o mundo
se carameliza em bosta, toda vaca
é gordona e a terra cinza de papel


Os prédios têm mais nome de mulher
que nome de homem, e o azul é o azul
céu do centro-oeste brasileiro


Uma TV a flores ligada
na cena de um mandacaru
nascendo no dedão do pé


Bate aquela vontade de voar
e de descer a escada de barriga
pelo corrimão, cair de cara e morrer
Mas tomar distância num copo de pinga
beber leite pra brincar, depois pinga
depois distância de novo e cantar


A cabeça suja é boa para as coisas
que fazemos em cima dos castanheiros
por exemplo nada, e também um poema.

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