Ele disse que aquilo não era traição, que dividir o mesmo vagão do metrô com a ex não significava traição, e era coisa do acaso. É claro que a culpa é do acaso. É sempre do acaso, do destino, sempre a culpa é de quem não tem garganta, de quem não sente frio, não pega metrô. Que eu saiba acasos ou destinos não tem pernas nem coração, nem olhos para ver seu namorado com a ex dentro de uma estrutura de aço que desliza por trilhos. Por segundos, passara um filme na cabeça de Daiane, abre parênteses, Eu, Davi, recebo-te por minha esposa, Daiane, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da minha vida, fecha parênteses. E ainda dizia: quero passar os dias de velhinho ao teu lado e usar bengala. Tantas demonstrações de afetos e promessas para descarrilar assim nesse desentendimento. - Você não tirava os olhos dela, eu tenho certeza, tenho certeza que você marcou jantar, disse que sentia saudades, que ela estava linda. - Amor, Não tem razão para tantos ciúmes, eu só estava no mesmo vagão que ela, em um espaço que é público, deixe de noias, ele disse dando o nó na gravata e olhando para Daiane pelo espelho. Ela o abraçou por trás encostando a cabeça em suas costas. - Você não me ama mais, ela disse deixando suas lágrimas molhar a camisa branca de botão dele. Ele nunca a traiu. Nunca. Só encontrava com a ex porque ela era segura, otimista, bem-humorada e possuía personalidade forte. Depois de alguns dias, Daiane voltou para a terapia. Davi não voltou mais para casa.