Outubro dominou
– com palavras suaves –
esse bicho selvagem
que bate aqui dentro
Tão caloroso, tão envolvente
acarinhando os meus cabelos
enquanto – lá fora – a cidade
enche-se de folhas e prazeres
As cores se transmutam
se despedaçam
e se regeneram
outubro é doce e delicado
idêntico aos olhos
idêntico às minhas mãos
(doce e delicadas)
Nas ruas esquisitas desse Recife
outubro se vende
a qualquer hora
por qualquer preço
Quanta agonia trago no peito.
Observando – desse meu quarto alugado –
as velhas figueiras, quase nuas
e seus pássaros coloridos
e seus ninhos destroçados.
Continuo a entulhar maus pensamentos
– nesse baú de ciúmes –
aguardando que ele retorne...
(o dia recolhe as folhas
e dorme)
Transparente outubro, me despeço
no teu leito me entrego
do teu pranto me banho
e
assim;
despencando
do
alto,
permaneço
imóvel...
Outubro
tu
nunca
me
amaste.
César Jacomé
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