Ilustração Thiago Liberdade

Segurava a porta com meus joelhos e demônios subiam pelas varizes de umas poucas beatas, nem tão velhas, de terços na mão. Escorriam das fissuras centenárias nas pedras da antiga igreja e me exigiam os bacuris prometidos (quando minhas árvores só tinham flores e alguns troncos nus de gerânios iridescentes, açúcar da Indonésia e mel da Colômbia).

 

Com línguas finas, faziam pequenos furos na casca dos bacuris e sorviam seus sumos na fronte de pequenas medalhas. Línguas estranhas acariciando os ouvidos, e a voz da mãe suave como o cu de um bacuri. Os falos morenos exigindo a terra. Um caboclo bate. Um caboclo sabe. Um bacuri precisa ser fecundado para brotar. No Maranhão e no Piauí, a fruta vira displicentes doces, compotas e sorvetes nos meses de janeiro a maio, quando se dão as safras. Seus potássio, cálcio e fósforo lhe garantem a imunidade para circular pelas ruas. Seu óleo tem feito fechar pústulas de peles jovens.

 

Um caboclo diz que o bacurizeiro nasce até dentro de casa. “O fruto tem o tamanho de dois punhos, com uma casca de meia polegada muito boa de comer como doce, tal qual a pêra”, afeiçoou-se o frade Claude d’Abbeville, um francês de saias religiosas que deu com a língua no bacuri quando tentava trazer a cruz para um Nordeste sem anáguas nos 1700.

 

Outro religioso, o português João Daniel também roçou-lhe os dentes: “A fruta bacuri, posto que tenha seus senões, também merece sua menção, pelo seu excelente gosto. A sua árvore é famosa de grande, e também o fruto é de bom tamanho... Tem a casca grossa, e para dar a casca, e se abrir a fruta, quer maço, ou requer se dar com ela em uma pedra, ou pau; ... porque tudo são caroços vestidos ou revestidos de uma felpa por modo de algodão muito alva”. Afeito a tamanhos, de frutos também, o jesuíta dedicou vários de seus dias de prisão a descrever o bacuri. Fora encarcerado pelo Marquês de Pombal.

 

Bacurizeiro é planta vadia. Espalha troncos. Espaçoso, mais de dois metros de corpo roliço, trinta metros de altura. Mas dá pouca fruta. O caboclo sabe. Para ele dar bacuri tem que apanhar com cipó. Sem deixar de amarrar o cipó no tronco. Na altura do peito do dono. A mãe cinza não gosta. “Se apanhar, o bacurizeiro fica com raiva e solta fruta verde”, sussurra ela para suas multidões. “Na lua nova”, ensina ela, “é preciso colocar os falos caboclos para fora das calças e penetrar com violência os bacurizeiros. É quando o mato vira fêmea”.

 

Nenhuma gota de sêmen pode ser derramada para além das fendas do corpo da planta. Quando desfrutada como dama, a árvore deve receber ordens. “Segura teu ventre”. Se houver bacuris na próxima estação, os demônios não subirão por nossas varizes. “Segura teu ventre”.

 

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