Nunca fiz um poema limpo
como a indulgência ou minha mãe,
sempre os outros e o pó dos outros
puseram em mim sua presença.
Como a infância, há sempre um vulto,
emergido de algum silêncio.
Para ajudar-me a escrever,
vem segurar na minha mão.
Mas rasgo tudo, rasgo o que amo
e vejo tudo realizado
nas outras mãos, enquanto fico
desconfiando de minha força.
Às vezes mostro a meus amigos
minha flores, peço-lhe água…
Eles sorriem, são meus amigos,
mas também estão no deserto.
Já não desejo ser autêntico:
sobre uma só realidade,
eis-me na Terra, como os outros;
sou os outros, e morro só.