Ilustração por Karina Freitas

Nunca fiz um poema limpo

como a indulgência ou minha mãe,

sempre os outros e o pó dos outros

puseram em mim sua presença.

 

Como a infância, há sempre um vulto,

emergido de algum silêncio.

Para ajudar-me a escrever,

vem segurar na minha mão.

 

Mas rasgo tudo, rasgo o que amo

e vejo tudo realizado

nas outras mãos, enquanto fico

desconfiando de minha força.

 

Às vezes mostro a meus amigos

minha flores, peço-lhe água…

Eles sorriem, são meus amigos,

mas também estão no deserto.

 

Já não desejo ser autêntico:

sobre uma só realidade,

eis-me na Terra, como os outros;

sou os outros, e morro só.

 

 

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