Rubem Fonseca está de volta. Um dos mais influentes escritores brasileiros lança em abril uma coleção de narrativas curtas pela Nova Fronteira, editora com que acabou de assinar contrato. Com o título de Calibre 22, o volume apresenta o retorno do autor ao seu terreno maior: a violência (física e simbólica) numa grande urbe. Quem seleciona algumas das suas obras essenciais é o escritor Ricardo Lísias, que está preparando um conjunto de ensaios sobre Fonseca para os próximos meses.
Feliz ano novo (1975) - Foi proibido pela censura do regime militar, que acusou o livro de imoralidade. O volume é emblemático da prosa de Rubem Fonseca: textos ágeis e secos, inauguram uma espécie de realismo urbano bastante cru, com as personagens saindo das classes mais baixas, convivendo o tempo inteiro com a violência. É possível dizer, com algum ajuste, que esse livro inaugura uma nova tendência na literatura brasileira, a de se voltar para a brutalidade da vida na cidade grande com uma ênfase no conflito entre a bandidagem e as classes mais altas, com a polícia protegendo os mais ricos.
A grande arte (1983) - Inicia uma série de romances com temática policial, mas com um tratamento particular do gênero. Bufo & Spallanzani e Vastas emoções e pensamentos imperfeitos continuariam a saga. Aqui, a arte de manejar a lâmina da faca, por si só violenta e controvertida, conduz o narrador por uma viagem que vai das mansões cariocas à fronteira do Brasil com a Bolívia. Assassinatos em série e uma estranha organização criminosa engrossam o caldo de uma trama bem narrada e, de certa forma, surpreendente.
Agosto (1990) - É um livro surpreendente: interrompendo a série romanesca sobre a violência urbana carioca dos anos 1980, Rubem Fonseca publica um romance histórico. Sem perder o tom de investigação policial, o livro descreve as tramas políticas que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Muito bem escrito, mistura personagens históricas com outras ficcionais, criando um dos painéis mais interessantes daquele momento trágico da história brasileira.