Arte sobre foto de ricardo moura/Divulgação

 

O escritor Nivaldo Tenório acaba de lançar Dias de febre na cabeça, denso livro de contos que revela um talento genuíno e forte, sedimentado em histórias humanas e decisivas, conquistando a atenção do leitor. Pode-se destacar que se apresenta com grandes qualidades ficcionais, a partir do domínio absoluto do texto, investindo na coerência entre personagens e situações, sem alimentar falsas posições literárias e sem necessariamente buscar o campo das novidades inventivas, que terminam por insistir numa possível vanguarda, já de muito ultrapassada.

 

Basta uma leitura atenta neste livro, ainda que às vezes descuidada, para se verificar o nascimento — se é possível dizer assim em relação a Nivaldo — de um verdadeiro escritor, preocupado com o seu ponto de vista, ou seja, com a sua visão de mundo, trabalhada na formatação do texto, na construção dos personagens , na estrutura dos diálogos, enfim, no seu universo intelectual, com o bom acabamento da obra.

 

Nele, verifica-se de imediato o absoluto amor à literatura, mais especificamente, à prosa de ficção, com um estilo marcado pela força da pontuação, com frases que parecem golpes certeiros, sem tempo para inúteis reflexões, sustentando o olhar do personagem desde o primeiro instante, e com ele percorrendo todo o texto. São escritores assim que tornam possível a literatura, num mundo em que se apregoa a pressa e o descompromisso.

 

Sim, porque o olhar do personagem é uma técnica extremamente forte, que concede ao narrador um grau supremo de liberdade, de forma a percorrer toda a história tanto no panorâmico quanto nas individualidades, explorando ora a imagem, ora o psicológico, embora o psicológico tenha uma predominância decisiva na prosa de ficção.

 

Para alcançar todos estes efeitos, Nivaldo leva para o seu trabalho ficcional o poder de uma leitura cada vez mais selecionada, não levando para a estante aqueles livros que forçosamente atrapalham a formação do escritor. De forma que neste instante é preciso saudar a força deste escritor e, é claro, o enriquecimento da literatura pernambucana, vindo de Garanhuns.

 

Não resta dúvida que, a partir deste livro, Nivaldo passa a integrar o quadro dos melhores ficcionistas do Estado, pronto para novos voos, sem necessariamente tornar-se um romancista como se exige tanto por aí. O conto é, em si mesmo, um produto artístico pronto e acabado, e tornando-se uma obra de arte absoluta, desde que recebendo um acabamento de qualidade.

 

Para isso, basta que se preste atenção no ritmo, no andamento e na cadência dos textos, em que os personagens se realizam plenamente.

 

Sem dúvida, ritmo, andamento e cadência muito particulares, de um criador que já nasce com sua marca definitiva. Para dizer mais sobre Nivaldo é preciso entrar no detalhe criador, sobretudo na estrutura das frases, das cenas, dos cenários, dos diálogos.