O viaduto mais íngreme do mundo, de Guilherme Azambuja Castro, é mais uma incursão do autor por um universo onde memória e sonho se confundem. Só que desta vez de forma vertiginosa no conto que dá nome ao livro, e que nos leva a uma espiral de pesadelos que parecem não ter fim. O non sense e a opressão da história nos transporta a um labirinto onde a angústia, a solidão e o delírio são uma constante. Fisgam o leitor e o carregam nesse mergulho do fantástico no cotidiano.
Da abordagem memorial dos seus trabalhos anteriores, onde também se podia perceber uma certa crítica social, neste novo trabalho o autor dá um passo a mais no seu repertório. A maioria dos contos reunidos no livro - lançou no dia 7 de novembro, na 71ª Feira Literária de Porto Alegre - o autor nos guia por um estilo fantástico que lembra autores como o argentino Julio Cortázar e o mexicano Juan Rulfo.
A força do texto que dá nome ao livro não está no que acontece, mas no modo como acontece. Para tanto, Castro recorre a uma linguagem poética, quase contemplativa, que prefere sugerir a explicar. O mar chuvoso, as grades que separam a entrada da praia, o viaduto que se ergue ao longe, e sempre volta a ser percorrido, todos são elementos carregados de sentido simbólico. O viaduto, aliás, funciona como metáfora da travessia impossível, um espaço de limite, inclinado, vertiginoso, entre o que se lembra e o que se esquece, entre o presente e o eu refletido no espelho.
Não apenas “O viaduto mais íngreme do mundo”, mas outros contos do livro se pautam no uso do onírico, do surreal. No caso do texto principal, isso fica evidente a partir de um cavalo percheron numa avenida do Rio. Mas os sonhos, ou o inconsciente sobrepondo-se à realidade estão por toda parte e dão o tom a alguns contos de Castro, a exemplo de: “É esta mulher?”, “Um sonho tão bonito” e “Ruim é ficar sangrando”.
O autor também faz algumas abordagens memorialísticas de suas origens. Nascido em Santa Vitória do Palmar, interior do Rio Grande do Sul, dessa vez ele não se atém aos temas rurais, mas faz uma viagem sentimental por Porto Alegre em “Para que lembrar?”, onde não apenas retorna a cenas da infância, como faz um passeio sentimental por autores que marcaram sua trajetória.
Apesar da riqueza da força e do impacto de grande parte dos contos, o livro é desigual. Algumas narrativas, diante da grandeza da nova linguagem trazida por Castro, nos soam rasas, como se estivéssemos lendo outro autor. Mas vale a pena conhecer a narrativa do gaúcho, que mostra originalidade e potência.
Guilherme Azambuja Castro foi vencedor do Prêmio Cepe de Literatura em 2015, com o livro O amor que não sentimos e outros contos. Ele também publicou Topografias da solidão. O viaduto mais íngreme do mundo, que tem o selo da Zouk Editora, é seu terceiro livro.
Serviço
O viaduto mais íngreme do Mundo - Guilherme Azambuja Castro
Editora: Zouk
páginas: 110 páginas
Preço: R$ 58