A última sexta-feira de programação da Bienal do Livro do Rio abriu os portões pontualmente às 10h e uma grande quantidade de amantes do livro entraram correndo pelos pavilhões com a intenção de garantir os melhores lugares nas filas de autógrafos, estandes menos lotados (vazios, jamais) e a compra rápida dos livros mais adorados.
A programação oficial do dia, divulgada com antecedência nas redes sociais, porém também exibida em diversos pontos do evento, mostrava uma diversidade de mesas, sessões de autógrafos, atividades para as crianças e até mesmo um momento de karaokê. Nomes de grande importância para a literatura brasileira, como Eliana Alves Cruz, Ruy Castro e Ana Maria Machado fizeram parte da Bienal.
Palavras e silêncios
Diante da mediação da jornalista e coordenadora da editora Bazar do Tempo, Claudia Lamego, as escritoras Ana Maria Machado, Heloisa Seixas e a italiana Dacia Maraini conversaram sobre suas respectivas vozes na literatura. De maneira quase intimista com os espectadores, o trio compartilhou histórias do início de suas trajetórias dentro do universo literário e dos seus lançamentos de livros mais atuais. Heloisa, por exemplo, contou que seu novo livro O oitavo selo fala sobre as vezes em que o marido esteve perto da morte e venceu — o marido em questão é o famoso escritor Ruy Castro.
Ana Maria Machado
Durante o bate-papo, Ana Maria Machado voltou à juventude, contando sobre quando começou a publicar histórias para crianças na antiga revista Recreio. Formada em letras, a autora chegou a acreditar que seria professora, mas a vida caminhou de maneiras diferentes do imaginado, a carregando para o mundo dos livros. Em determinado momento da conversa, a pergunta “como me tornar uma escritora como você?” surgiu entre o público e Ana foi rápida em responder: “Eu costumo dizer que é como uma caixa d’água. Pinga gotinha por gotinha, até transbordar”.
Literatura italiana desembarcando no Brasil
Diretamente da Itália, Dacia Maraini ainda possui poucas obras publicadas no Brasil, — A longa vida de Marianna Ucria, considerada sua obra-prima, está sendo relançada no Brasil pela editora Nova Alexandria — porém é uma das principais vozes da literatura italiana. Durante a mesa, a escritora refletiu sobre sua jornada e explicou mais sobre a nova edição em português do seu livro mais famoso. Contando a história de uma mulher que para de falar e se comunica apenas pela escrita, Dacia ambienta uma narrativa que debate sobre o que é ser mulher.
Sucesso da editora Darkside
Independente do dia e da hora, uma certeza corria pelos corredores de todos os ambientes da Bienal do Livro: o estande da editora Darkside está lotado. Pela primeira vez no evento, a editora foi fundada em 2012 e se tornou cada vez mais popular com o tempo, se destacando no meio pela publicação de livros de terror, suspense e narrativas sobre crimes. 2025 foi a primeira vez que a editora esteve presente em uma bienal e ela caprichou: com muitos livros com descontos, o estande conta com brindes diversos sendo distribuídos, locais para fotografar e até uma roleta com prémios.
Narrativas negras
Eliana Alves Cruz lançou, na Bienal do Livro, seu mais novo projeto: uma história sobre a personagem Milena, da Turma da Mônica. Em parceria com a Mauricio de Souza Produções e a editora Malê, o livro foi batizado de Milena e o enigma do pássaro misterioso. Assim como ela, o quadrinista e ilustrador Marcelo D’Salete, lançou recentemente uma história dedicada aos pequenos leitores, o quadrinho Luanda no terreiro.
Com duas narrativas que possuem em comum o público infantil e o protagonismo de personagens negros, a dupla conversou sobre a nova literatura que está sendo produzida no Brasil. Eliana, emocionada, contou sobre sua relação de muita admiração com os próprios pais e ressaltou a importância da família e da escola na formação da nova geração de leitores. Marcelo, por sua vez, atestou como a leitura pode ser transformadora e, em seu primeiro trabalho para o público infantil, explicou que já era hora de uma história em quadrinhos que falasse sobre as religiões de matriz africana de forma educativa para os pequenos.
Rio de afetos
No palco Ziraldo, três imortais da Academia Brasileira de Letras se reuniram: Ruy Castro, Antonio Carlos Secchin e Arnaldo Niskier. O momento foi dedicado em compartilhar as suas relações únicas e cheias de afetos, como indicava o nome do momento, com a cidade do Rio de Janeiro. Em 2025 a cidade ganhou o título de Capital Mundial do Livro pela Unesco e assim, celebrar as vivências de grandes nomes da literatura na cidade é mais uma forma de homenagear a honraria.
Ruy Castro aos 20 anos
Homenageando nesta edição da Bienal do Livro, o jornalista e escritor Ruy Castro, com muito bom humor e sinceridade, começou sua fala sendo categórico: “não há nada como ter 20 anos de idade”. A partir desse mote, ele descreveu como foi o seu ano de 1967 e 1968, quando tinha essa idade admirada, era estudante na Faculdade Nacional de Filosofia, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e repórter no importante jornal Correio da Manhã.