No dia 23 de fevereiro de 2025, o ator franco-americano Timothée Chalamet foi consagrado com o troféu de Melhor Ator em Papel Principal na premiação de prestígio SAG Awards, por sua interpretação do lendário músico Bob Dylan no longa-metragem Um completo desconhecido. Aos 29 anos, Chalamet se tornou o ator mais jovem a vencer o prêmio e através de um discurso forte, onde declarou o desejo de grandeza, homenageou o artista: “Coloquei tudo o que tinha para interpretar esse artista incomparável, Sr. Bob Dylan, um verdadeiro herói americano. Foi a maior honra da minha vida interpretá-lo”.
No mês seguinte ao SAG, aconteceu o Oscar, a mais conhecida e prestigiada cerimônia do cinema mundial, onde o filme dirigido pelo cineasta James Mangold saiu sem prêmios. Independentemente da ausência de troféus, Um completo desconhecido levou a arte de Bob Dylan mais uma vez para os holofotes (será que algum dia ela saiu?).
Antes do filme, porém, veio o trabalho minucioso do músico, crítico e escritor Elijah Wald, que escreveu o livro Dylan Elétrico: do folk ao rock, publicado no Brasil pela editora Tordesilhas, e do qual Um completo desconhecido foi adaptado.
Logo nas primeiras páginas do livro, Wald resume o evento que transformou a carreira de Bob, o folk e o rock: “Na noite de 25 de julho de 1965, Bob Dylan subiu ao palco do Newport Folk Festival usando jeans preto, botas pretas e jaqueta de couro preta, carregando uma Fender Stratocaster no lugar de seu violão acústico de sempre”. Diante de um público que vibrava ansioso por escutar o ídolo, Dylan teimou em surpreendê-los com uma apresentação que entrou para a história da música e que, diante do tempo, se tornou cada vez mais e mais surpreendente.
Naquela noite, ao invés de se apresentar como o típico astro folk que o mundo conhecia e começava a adorar, Bob Dylan decidiu demonstrar seu espírito de camaleão. Ali, o artista estava rompendo com o tradicional passado da música e ousando. “Aquilo marcou o fim do renascimento do folk como um movimento de massa e o nascimento do rock como a voz artística madura de uma geração, e em suas respectivas metades da década, tanto o folk quanto o rock simbolizavam muito mais do que música”, escreve o autor.
É partindo desse cenário que Wald escreve todo o livro, analisando de maneira aprofundada os acontecimentos marcantes do renascimento do folk, o início da carreira de Bob Dylan e como a transformação do músico significou um rompimento com os “puritanos” e o fez seguir no caminho para a consagração que possuiu e ainda possui.
Ao longo da narrativa, a figura do artista Pete Seeger é muito bem construída e mesmo para um leitor que não o conhecia antes da leitura, sua personalidade perpassa as palavras e vira quase sólida, visível. Assim, Elijah Wald remonta o cenário político e social dos Estados Unidos nas décadas de 1940, 1950 e 1960, demonstrando como o momento se associou no renascimento do movimento folk e da figura de Seeger. Para ele, sua arte era apenas mais uma forma de ser político e assim, tornou-se mentor de artistas e uma figura ilustre para a esquerda.
Quando o sucesso de Dylan diante do mundo folk começou a acontecer, a relação com Seeger logo tomou forma também. De acordo com Elijah Wald, ambos se sentiam atraídos pela música folk porque ela estava “enraizada na realidade, na história, em experiências profundas”. Sendo assim, a relação entre os músicos se desenrolou, mas no momento em que Dylan fez sua curta apresentação no Newport Folk Festival de 1965, as diferenças de pensamento eram maiores do que as convergências.
O show de Bob Dylan teve uma recepção excepcionalmente ruim no festival, porém as razões foram além do desgosto do público por causa do porte roqueiro do artista, tomando forma também pela curta duração da apresentação. Depois dele, o Newport Folk durou poucos anos e muitos dos jovens que adoravam o folk e idolatravam Bob passaram para o “lado rock da força”. Aquele momento mostrou que Bob Dylan era o futuro e seguiria sendo, independente de quem tentasse pará-lo (um dos boatos que correm até hoje é que Pete ameaçou parar o show cortando os fios com um machado).
“Para muitas pessoas, a história do Festival de Newport de 1965 é simples: Bob Dylan estava ocupado nascendo, e qualquer um que não aceitasse a mudança estava morrendo”. Afirma Wald.