Pintura rupestre. Todos os interessados em entender o passado mais remoto sabem, ao menos vagamente, o que significa a expressão. Tradução popularizada das pictografias, uma das formas mais delicadas e intrigantes da expressão humana. Se é possível imaginar um mundo inteiro numa casquinha de noz, por que não num pigmento posto com intenção e significado em superfície sólida, mineral, no alvorecer dos tempos?
Aprenderemos um pouco mais sobre essas coisas e loisas no livro Tintas do passado – manufatura e composição de registros rupestres em Pernambuco, de Paulo Martín Souto Maior, Anne-Marie Pessis e Maurílio Amâncio de Moraes. O lançamento ocorre nesta quarta-feira (7), às 18h, na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco.
Nas mais de 300 páginas, temos um texto ao mesmo tempo rigorosamente técnico, claro, preciso, mas ameno, bom de ler. São tantas e tão boas as ilustrações que esse livro extrapola a simples condição de trabalho acadêmico, científico, e sabe a arte. Como se a memória vegetal do papel existisse para celebrar o mineral.
Difícil olhar para qualquer das pinturas reproduzidas aí sem sentir uma emoção bem mais viva e autêntica do que a destilada por toda a arte contemporânea. Se seguirmos a ideia de Suspension of disbelief de Coleridge, fruiremos ainda mais desse extraordinário patrimônio. Porque não há nada aí para descrer ou crer, mas testemunhar, riscar e arriscar significados.
Inscritos nas cavernas e em outros abrigos rochosos e noutras superfícies. Com os pigmentos os mais diversos. As tintas puderam ser inclusive o sangue. Nunca a natureza e a cultura estiveram tão bem irmanadas.
Custódia, Ibimirim, Águas Belas, Iati... são alguns dos sítios visitados e estudados pelos autores nesta joia bem elaborada que é Tintas do passado. Desde já, leitura utile aos estudiosos e especialistas da arqueologia e da História, e dulci a todos os que às agruras do presente e inquietações do futuro suplantam por encontrar no passado e suas tintas um veio inesgotável.