Na primeira da série de autores entrevistando autores, a escritora Andrea del Fuego enviou suas perguntas para Santiago Nazarian e este, por sua vez, decidiu criar questões para o escritor e roteirista Marçal Aquino, autor de títulos como O amor e outros objetos pontiagudos e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. Santiago quer saber dos processos que o colega desenvolve ao lidar simultaneamente com a palavra no campo da literatura e do cinema e TV. Eis as respostas:
Santiago - Apesar de uma carreira bem sucedida como romancista, há dez anos que você vem trabalhando basicamente como roteirista. O roteiro satisfaz suas ânsias como autor?
Marçal - Acho sempre prazeroso e, considerando a experiência diária com a TV, muito desafiador escrever roteiros. Mas a prática não satisfaz inteiramente o desejo de escrever, na medida em que tenho claro que meu interesse maior é a literatura. Mas não vejo conflito nisso. Vou lançar um romance no segundo semestre, no qual trabalhei nos últimos três anos. O hiato de uma década sem publicar tem mais a ver com o fato de que, antes desse romance, abandonei a escrita de dois outros livros – e um deles me custou quatro anos de empenho. Normal.
Santiago - Como é o processo de adaptar sua própria obra para o cinema?
Marçal - É um processo muito rico. Em síntese, porque, para mim, permite uma releitura da obra em uma linguagem totalmente distinta. E tem também a questão da motivação diferente, já que o impulso de adaptar sempre vai partir de um diretor.
Santiago - Até que ponto o trabalho como roteirista te acrescenta e te prejudica como escritor?
Marçal - Assim como a prática do jornalismo, ao contrário do que afirmam alguns colegas, não atrapalha a literatura, penso que o mesmo acontece com o roteiro. A literatura sempre contaminou e foi contaminada por outras formas de expressão. É isso, por sinal, que faz dela algo vivo.
Santiago - Qual serão seus próximos passos como autor?
Marçal - Trabalho na conclusão do romance que mencionei e, em paralelo, escrevo um novo seriado para a televisão – ambos devem vir à luz no segundo semestre. E neste ano, finalmente, voltei a me envolver com o cinema, coisa que não acontecia desde 2006: vou fazer a supervisão do roteiro de dois projetos: um filme sobre a Hilda Hilst e a adaptação do livro Biofobia, que o Santiago conhece bem.